quinta-feira, 24 de julho de 2008

Mário da Silva Brasil (II)


MÁRIO DA SILVA BRASIL
- biografia -
autoria de Diego de Leão Pufal

Dando continuidade à vida de Mário da Silva Brasil, meu bisavô, transcrevo a biografia por ele deixada, datada de 06 de setembro de 1950, que me foi passada por sua filha (minha tia-avó) Carmem Brasil. Além de retratar a infância em Santa Maria, o caminho acadêmico percorrido, dentre outros fatos, revela parte da história da Escola de Engenharia de Porto Alegre (da Universidade Federal do Rio Grande do Sul), não só por integrar a primeira turma de alunos, mas também por ter sido, por longos anos, professor catedrático da Casa.
(Foto: formandos da primeira turma de alunos engenheiros, eletrecistas e mecânicos do Instituto de Electro-Techinca de Porto Alegre - Escola de Engenharia, UFRGS, 1912. Diretor: D.J.J. Pereira Parobé; Secretário: Dr. João Ferlini; Paranympho: Dr. Harry Rees; engenheiro chefe: Dr. Diógenes Tourinho; homenagem ao prof. Dr. João Simplício. Formandos: Antônio T. Leite, de Jaguarão; João K. Lima, de Pelotas; Mário da Silva Brasil, de Santa Maria; Normélio Ferreira, de Gravataí; Maurício Legori, de Porto Alegre, e Homero Miranda, de Santa Maria.)
Na transcrição da biografia de Mário da Silva Brasil respeitou-se a grafia da época, tal qual consta no original:

"Minha Biografia MÁRIO DA SILVA BRASIL
“Nasci a 2 de março de 1889 no lugar denominado Passo do Raimundo, a três léguas da cidade de Santa Maria, na casa de meus avós paternos. Minha avó que se chamava Francisca de Oliveira Brasil, não cheguei a conhecer, pois morreu a 14 de fevereiro de 1890, com 50 anos de idade, isto é, quando eu contava apenas 11 meses. Fora uma excelente esposa e mãe carinhosa. Sua mãe adotiva, Mathilde da Costa Pavão, foi uma senhora cheia de virtude cristã e caridade. Meu avô, João Thomaz da Silva Brasil, era filho de Santo Antônio da Patrulha, onde nasceu em 1824, sendo seus pais Anacleto José Gonçalves, português de nascimento e falecido em Cruz Alta em 1835 e Tomazia Rodrigues da Silva.
O meu avô, que viera ainda criança, com 11 anos, para Santa Maria, aí se fez homem, casando-se em 1857. Dedicou-se ao comércio, tendo adotado por essa ocasião o sobrenome Brasil por haver no lugar um outro negociante seu homônimo. Em 19 de maio de 1858 foi eleito vereador da 1ª Câmara Municipal, como refere Hemetério José Veloso da Silveira, em sua obra sobre as Missões Orientais, ás pgs.596 e João da Silva Belém, em sua História do Município de Santa Maria, ás pags. de número 108, 110, 113, 114, 119 e 122, sendo designado com outro vereador para organizar o Código de Posturas do Município. Terminado o mandato em 1860, foi eleito juiz de paz do 1º distrito para os períodos de 1861-64, 1873-76 e 1877-80, sendo novamente eleito vereador da 3º câmara para o quatriênio de 1865-68. Desempenhou ainda o cargo de promotor ad-hoc, além de outras representações públicas.
Alguns anos depois mudou-se para o Passo do Raimundo, onde se fez agricultor. Homem inteligente e imaginoso, montou um engenho de cana para a fabricação de álcool, assucar e seus derivados, além de uma cantina cujas máquinas ele mesmo inventou e fabricou. Durante muitos anos trabalhou nestas indústrias com bons resultados, abandonando-as depois, devido à idade. Faleceu em 15 de junho de 1904, com 80 anos de idade, deixando 11 filhos, sendo o mais velho o meu pai, José da Silva Brasil, nascido em 8 de novembro de 1858.
A meia légua da casa de meus avós paternos moravam meus avós maternos. A minha avó, que se chamava Maria Francisca de Oliveira, era sobrinha do bravo almirante Barroso que legou um nome à Pátria, cobrindo-se de glórias na guerra do Paraguai. Faleceu no ano de 1911, com 72 anos, tendo deixado 10 filhos, sendo minha mãe, Maria Alves Brasil, a única mulher, nascida em 13 de agosto de 1869.
O meu avô, Benedito Alves de Oliveira, a quem conheci assim como á minha avó, foi negociante e criador, tendo falecido em 2 de março de 1916, com 80 anos de idade. Meus pais, que casaram em 13 de maio de 1888, vieram morar em casa de meus avós paternos, onde nasci e me criei até a idade de 9 anos em companhia de meus padrinhos, irmãos de meu pai: Vergílio e Maria José Brasil. Ali passei os primeiros anos de minha infância feliz e descuidosa e lembro-me, perfeitamente, dos sustos e terrores que os prodromos do movimento revolucionário de 1893 produziram.
Cerca de 2 anos depois do casamento de meus pais, Júlio de Castilhos, que tinha sido companheiro de estudos de meu pai, em Santa Maria, e que o tinha como amigo, nomeou-o para o lugar de professor público da então Colônia Silveira Martins, para onde se transferiu com a família. Aí passei algum tempo, tendo depois voltado para companhia de meus padrinhos. Em 1898, meu pai foi novamente distinguido, pelo então presidente do Estado e seu antigo colega, com uma nova nomeação: a de escrivão de órfãos e ausentes do termo de Santa Maria. Deixando o magistério, que havia exercido durante 5 anos com verdadeiro devotamento e inteligência, tanto que grangeou a estima de todos os colonos, entre os quais deixou verdadeiras afeições, veiu meu pai com a família, agora bem aumentada, para Santa Maria afim de tomar posse do novo cargo. Logo que se instalou convenientemente, mandou-me buscar afim de me por no colégio.
Foi meu primeiro professor o velho educacionista Antero Gonçalves de Almeida, falecido em Porto Alegre a 1-8-1933. Um ano depois, isto é, em 1900, passei a frequentar o colégio mantido pelo ilustre professor Dr. Alfredo Clemente Pinto, falecido no Rio de Janeiro em 21-1-1938 com 81 anos de idade, mas durante estes 2 primeiros anos de estudos muito pouco aprendi. Em seguida fui aluno da escritora Andradina de Oliveira, falecida em 6-8-1933 em S. Paulo, e do extinto professor Benvindo Pires de Sales, com os quais aprendi mais alguns rudimentos. Mas foi só em 1902 que, entrando novamente para a escola do professor Gonçalves de Almeida, fiz verdadeiramente algum progresso. Em 1903, além das aulas da manhã, comecei a frequentar as da tarde, dadas a uns poucos alunos, mediante uma módica mensalidade e tal foi meu progresso, principalmente em matemática, que nesse mesmo ano tive o meu primeiro aluno dessa disciplina, o professor público Afonso Fontoura, homem já bastante idoso e que pouco depois falecia.
No ano seguinte, tendo os Irmãos Maristas se estabelecido em Santa Maria com o colégio S. Luiz, meu pai colocou-me ali, onde fui admitido no 1º ano do curso secundário, após exame prévio. Aplicado aos estudos, desde logo comecei a distinguir-me entre os demais colegas, especialmente em matemática e ciências, encontrando, porém, muita dificuldade em línguas. Diante disso procurei esforçar-me para vencer os embaraços que encontrava não só escrevendo artigos para os jornaizinhos da época, entre os quais tive alguns com vários companheiros, como escrevendo discursos que pronunciava em ocasiões oportunas. Nunca, porém, cheguei a vencer completamente essa dificuldade. Foi por essa época que se deram os incidentes mais interessantes de minha vida. Lembro-me perfeitamente das disputas que surgiram entre alguns dos meus conterrâneos por questões jornalísticas e que terminaram, as mais das vezes, em luta franca, às quais, nem sempre, eu fui estranho.
Como fosse o primogenito, entendia que os meus irmãos mais novos me deviam obedecer e, um dia, em que apliquei em corretivo a uma irmã que havia feito qualquer arte, esta foi se queixar a meu pai que, por uma orelha, me levou até a porta da rua, mando-me embora. Melindrado com isso, retirei-me a pé, para a casa de meu avô, no Passo do Raimundo, a 3 léguas de distância. Ao cabo de 3 dias, não tendo sido encontrado, grande susto e aflição causei a meus pais, desta vez, porém, não me quizeram aplicar a correção devida. Ao mesmo tempo que estudava, dava lições a diversos rapazes e desse trabalho tirava dois proveitos: o de encontrar maior facilidade nos estudos e o de ganhar o suficiente para as minhas despesas pessoais.
Mas de outros recursos também eu me valia para obter o dinheiro de que necessitava. Assim pelo tempo do carnaval, eu confeccionava limões de cheiro que mandava vender por um criadinho da casa; em outras ocasiões fabricava balas ou ainda mandava vender amendoim que eu mesmo torrava e empacotava. Muitas arminhas de fogo, feitas por mim, de cano de guarda-chuva, eu vendi aos meus companheiros de brinquedos, e, desde certa vez que minha mãe foi ferida, sem gravidade, no rosto, por um tiro casual de uma pistolinha, por culpa de um serviçal da casa, nunca mais quis saber delas. As festas de S. Pedro e S. Paulo como as de S. João davam-me também ensejo de ganhar bom dinheiro com a venda de balões que eu mesmo fazia, encontrando ainda outras fontes de receita como a fabricação de sacos de papel para armazens, etc.
Em 1905 instalou-se o Ginásio Santa Maria com os elementos do colégio S. Luiz, estava eu então no 2º ano que fiz com a mesma facilidade do ano anterior. Querido e distinguido por meus mestres, encontrava nisso novos estímulos para os estudos, conquistando assim o 1º lugar entre os demais colegas que, verdade seja dita, eram também meus valentes competidores. Venci assim, ano por ano, todo o curso ginasial que terminei em 1909 com um grande número de notas distintas e tendo obtido os melhores prêmios.
Nos últimos anos já escrevia na imprensa da minha terra natal, tendo muitos dos meus artigos e poesias merecido a honra de transcrições em diversos jornais do Estado e até fora dele. Em fevereiro de 1910 vim para Porto Alegre a fim de me matricular na Escola de Engenharia, como era meu vivo desejo. Faltando-me, porém, completamente os recursos necessários, tive a felicidade de encontrar um amigo, o Sr. Marciano Cidade, já falecido, que me acolheu em sua casa, onde estive os 3 primeiros meses de minha estadia na Capital. Era então presidente do Estado o provecto riograndense Dr. Carlos Barbosa Gonçalves, a quem me dirigi a fim de conseguir uma matrícula gratuita na Escola e a quem expus sinceramente o meu desejo. Não podendo me atender por já ter indicado 4 nomes ás vagas a que tinha direito, tal empenho fiz e tal interesse demonstrei pelo que pretendia, que não lhe foi possível mais negar-me a sua proteção, conseguindo assim o meu ingresso na Escola de Engenharia.
Fui admitido, mediante a apresentação de meu diploma de bacharel em ciências e letras, diretamente no 2º ano do curso de Engenharia Eletro-técnica, feito então em 4 anos. Devido ao brilhante resultado das minhas primeiras sabatinas, que fiz com distinção, fui convidado pelo Dr. Barbosa a comparecer a Palácio e dele recebi felicitações e palavras de encorajamento, dizendo-me estar satisfeito por ter atendido às minhas pretensões. Em breve tornei-me conhecido e comecei a lecionar particularmente, trabalho este que me dava o suficiente para cobrir todas as minhas despesas. Venci galhardamente o 2º ano do curso tendo conseguido o 1º lugar entre os meus colegas, apesar do tempo que empregava em outras ocupações. No fim do ano tive a satisfação de ser abraçado e felicitado, após os exames de Física e Química, que tirei com distinção, pelos meus ilustres e hoje extintos professores Drs. Benito Elejalde e Luiz Englert.
Em fevereiro de 1911, matriculei-me no 3º ano, continuando a lecionar particularmente e a escrever para a imprensa, como o vinha fazendo desde muito tempo. Devido ao trabalho excessivo adoeci, emagrecendo e tal foi o estado de fraqueza e de desanimo em que fiquei que, julgando-me perdido, com a alma alanceada pela dor e pela desesperação, num momento de profundo acabrunhamento, escrevi:
Embora eu absorva e beba atento
As lições que dos mestres tenho a flux,
Muito embora eu aspire a casta luz
Da ciência que ilumina o pensamento,

Não sou feliz, porque, neste momento,
Trago o fel que também tragou Jesus
E nos ombros carrego a eterna cruz,
O lenho do martírio e do tormento.

O escabrosa vereda do presente!
Quero subir-te, mas me não consente
O meu herculeo esforço soberano!

Quero galgar-te, mas sou fraco e pobre!
E o meu intento tão sublime e nobre
Vejo tombar, meu Deus, que desengano!

Felizmente, pude em pouco tempo restaurar as forças, voltando com ardor ao trabalho. Conclui assim o 3º ano com os mesmos resultados do anterior, tendo obtido o primeiro lugar nos exames. Por essa ocasião tive, por intermédio do Dr. Benito Elejalde, um convite da Cia Aliança do Sul para ir trabalhar naquela casa que me oferecia ainda um ano de estágio na Alemanha para me aperfeiçoar, mas dias antes o diretor do Instituto de Eletro-Técnicas, Dr. Diogenes Monteiro Tourinho, me havia convidado para trabalhar na Escola de Engenharia na qual, me disse ele, deviam ficar os seus melhores alunos, motivo porque aceitei o convite.
Livre das obrigações acadêmicas, abalei para Santa Maria afim de, em companhia de meus pais, passar as férias que bem merecidas eram, além de serem as últimas que teria como estudante. É bem fácil imaginar a satisfação que encontrei da parte de meus pais com os meus triunfos, aliás sempre manifestados exuberantemente em todas as outras ocasiões em que vencia uma nova etapa. Terminadas as férias, voltei para a Capital a fim de fazer o 4º e último ano do curso. Como os dois anteriores, venci-o facilmente, conquistando ainda o 1º lugar. Em 13 de novembro embarquei para o Rio de Janeiro em companhia de meus colegas e do Prof. Harry P.Rees, em viagem de estudos, visitando na Capital Federal e em S. Paulo as grandes usinas hidro-elétricas da Light and Pouwer e em Santos a de Itatinga. Guardo ainda imperecível lembrança dessa esplêndida viagem. Na volta, em fins de Dezembro, tratei de fazer minha tése que defendi no princípio do ano seguinte, isto é, em 1913.
Em 17 de março desse mesmo ano, ingressei na Escola de Engenharia como professor de diversas cadeiras e no cargo de engenheiro - auxiliar do então Instituto de Agronomia e Veterinária. O primeiro trabalho que fiz foi a instalação de luz e força para o estabelecimento e edifícios anexos. Achando-me, então, em condições de constituir família, escrevi a meus pais pedindo-lhes conselhos e sugestões. Tive a ventura de me ser inspirada por eles a escolha de minha futura companheira, escolha que sempre bendigo porque nela encontrei toda a felicidade de minha vida. Foi assim que casei em S. Gabriel a 4 de setembro de 1915, com minha prima Celina Laureano da Silva, nascida em 5 de setembro de 1898 no município de Santa Maria, filha de um primo - irmão de minha mãe, João Laureano da Silva e de Placidina Martins da Silva, falecida em 28 de julho de 1921, com 44 anos de idade, pois nascera a 10-10-1877. Foi minha sogra um verdadeiro modelo de esposa e mãe extremosa. O meu sogro, que nasceu em 10-5-1872 e faleceu em 24-3-1936, foi um camponês leal e honrado que, durante muitos anos se dedicou á criação no município de S. Gabriel. Seu pai, de quem tomou o nome, faleceu em 1872 e sua mãe, Francisca Alves de Oliveira, filha de João Mariano de Oliveira e Ignácia de Oliveira, falecida em abril de 1937 com 83 anos de idade, é tia de minha mãe, pois é irmã de meu avô materno. Os pais de minha sogra foram Plácido Martins Alves, falecido em 1923 com 80 anos mais ou menos e Belarmina Francisca da Silveira, falecida em 1930 com a mesma idade, aproximadamente.
Logo que casei, fui morar nas proximidades do Instituto de Agronomia e Veterinária onde, 6 meses depois, isto é, a 8 de março de 1916, tive a casa destruída por um incêndio ocasional e onde perdi quasi tudo o que possuia, tendo o fogo origem em um prédio vizinho. Pouco depois, minha esposa caiu de cama, levemente enferma, nascendo durante o período de sua moléstia o nosso primogenito, a 23 de maio. Tomou o nome de Flávio e, devido à sua debilidade, originado pelo estado de saúde de sua mãe, faleceu a 2 de julho de seguinte. Segundo filho nasceu em 15 de maio de 1917 e recebeu o nome de Glauco. Aos 5 anos matriculou-se no primeiro ano do curso elementar do N.S. do Rosário, onde bacharelou-se em 1933. No ano seguinte matriculou-se, após exame vestibular, na escola de engenharia, onde formou-se em engenharia civíl, em 1938. Entrou em seguida como engenheiro da prefeitura desta capital, onde trabalha. Em 25 de julho casou-se com D. Sarah Carvalho, havendo desse consórcio duas filhas: Eneida, nascida a 23 de abril de 1943, da qual eu e minha esposa somos padrinhos e, Elisabeth que nasceu a 24 de novembro de 1947. Em abril de 1916 fui transferido para o Instituto de Eletro - técnica no desempenho do mesmo cargo que ocupava no Instituto de Agronomia e onde estive até fevereiro de 1918, lecionando várias cadeiras. Nessa data fui nomeado assistente do serviço de Agronomia, cargo que desempenhei até maio do ano seguinte, além das aulas que dava no Instituto de eletro - técnica, sendo logo depois promovido a chefe daquele serviço por morte do astrônomo Dr. Frederico Rahnenfürer. Em março desse ano, fui designado para reger a cadeira de Astronomia do 3º ano do curso de Engenharia Civil, como também algumas aulas de matemática do Instituto Júlio de Castilhos que deixei em dezembro de 1937. Em 1920 fui enviado pela escola de Engenharia ao observatório da Universidade Nacional de Laplata, na república Argentina, onde fiz vários estudos astronômicos e aperfeiçoei-me na prática instrumental. Nessa viagem levei os meus pais em minha companhia, pois necessitava meu pai fazer uma melindrosa operação que, realmente, levou a efeito a Buenos Aires, sendo muito feliz. Na volta retomei o meu lugar no Instituto Astronômico e Meteorológico e reiniciei as aulas que dava, trazendo do diretor do observatório de Laplata um honroso atestado do meu aproveitamento. (...)"
"Em 3 de janeiro de 1922, nasceu minha primeira filha que tomou o nome de Ione. Começou seus estudos no Instituto de Educação, antiga escola Normal Gal. Flores da Cunha, passando depois para o colégio S. Catarina onde se diplomou em professora em 1940. Casou em 3 de janeiro de 1945 com o médico veterinário Dr. Rui C. Ferreira, havendo dois filhos desse casamento: Lilia, nascida a 4 de outubro de 1946 e Nei, nascido a 21 de setembro de 1949. Mora o casal em S.Ana do Livramento e ela exerce o magistério público estadual.
Quase três anos depois isto é, em abril de 1924 nasceu a segunda filha, que recebeu o nome de Helena. Fez seus estudos no Ginásio Sevigné, não completando o curso ginasial por ter adoecido dos olhos. Casou a 19 de maio de 1948 com o senhor José B. Goulart.
Em fevereiro de 1925 deixei o cargo que ocupava no Instituto Astronômico, a meu pedido, para exercer o de redator da revista Egatea até o ano de 1935, data em que foi extinta, continuando como professor nos Institutos de Engenharia e Júlio de Castilhos. Quando, em dezembro do mesmo ano, departamento nacional do Ensino nomeou um delegado para representá-lo aqui no Estado, afim de se proceder aos exames de todos os estabelecimentos secundários de ensino com fiscalização federal, fui escolhido como presidente da banca de provas escritas de matemática e, nesse cargo, permaneci durante sete anos.
Em fevereiro de 1928, fui convidado pelo diretor da escola de Comércio anexa à faculdade de direito, para lecionar a cadeira de matemática daquela escola, cargo que aceitei e exerci até dezembro de 1937.
A 25 de junho desse mesmo ano, nasceu mais uma filha que recebeu o nome de Maria. Fez o curso elementar no Ginásio Sevigne e tirou o curso complementar no colégio S. Catarina, em Novo Hamburgo, em 1944. Em 1945 lecionou no grupo escolar José do Patrocínio e em 1946 foi funcionária da Escola de Engenharia. Casou a 4 de setembro de 1947 com o Sr. Nerly Antônio de Leão, havendo dois filhos deste consórcio: Newton, nascido a 30 de julho de 1948 e Dóris nascida a 23 de março de 1950 e da qual eu e minha esposa somos padrinhos.
Foi também em 1928 que publiquei as Notas de Astronomia Prática, organizadas pelo astrônomo F. Rahnenführer em 1916, notas que desenvolvi e enriqueci com numerosos exemplos práticos e tabelas. No princípio de 1929 fui nomeado pelo Dr. Vitor Viana, Superintendente do Ensino Comercial, para fiscalizar a Academia de Comércio de Porto Alegre bem como o Instituto Superior de Comércio, anexo ao Ginásio N.S. do Rosário. Nesse cargo estive durante 6 meses, continuando depois como fiscal de exames do último Instituto, função que abandonei em dezembro de 1934. Em meados de 1930 fui nomeado para reger as cadeiras de geometria, trigonometria e analítica dos 2 primeiros anos do curso de engenheiros agrônomos, cargo que deixei em 1935. Em 1931 deixei a aula de Astronomia no Instituto de Engenharia e assumi a cadeira de física em 1932.
Em 15 e 20 de outubro de 1933 tive a desventura de perder meus bons e queridos pais, tendo minha mãe falecido primeiro. Foi minha mãe uma alma santa e boa. De meu pai disse, com inteira justiça, o Diário do Interior de Santa Maria: “... Foi, durante largos anos, escrivão de Órfãos e Auzentes desta cidade, cargo que sempre exerceu com grande capacidade de trabalho, zelo inconfundível e retidão impecável.
Alma boa e coração generoso, o morto de ontem viveu uma vida sem manchas nem deslises, legando aos seus filhos um patrimônio de honradez e de virtudes, tão raros nestes dias sombrios de crise generalizada de caracteres, em que o materialismo, não raro, cede lugar ao abastardamento das consciências.
Se, como funcionário, era inatacável, porque sabia cumprir, religiosamente, os seus deveres, como cidadão e como chefe de família, era inexcedivel, porque prestimoso e exemplar, verdadeiro paradigma, fazia-se estimar e respeitar por todos...”.
Quando em 1936 foi criada a Universidade de Porto Alegre, fui confirmado no cargo de catedrático da cadeira de física da Escola de Engenharia e nesse cargo me mantenho até o presente.
Em 21 de dezembro de 1936, nasceu meu filho Paulo que, tendo iniciado seus estudos no Ginásio N.S. de Rosário, continou-os no grupo escolar José do Patrocínio e, atualmente cursa o Ginásio Anchieta. Em 16 de abril de 1939 nasceu minha última filha, chamada Carmen, a qual iniciou seus estudos no Pensionato S. Terezinha e cursa atualmente o Ginásio Sevigné.
Nos anos de 1936 e 1937 fui igualmente professor dos Cursos Pré-Universitários, onde lecionei matemática, física e mineralogia no Pré-médico e cosmografia e geofísica no pré- técnico, tendo nessa ocasião editado, pela Livraria do Globo, meu segundo livro didático: Elementos da Geofísica, do qual a 1º edição foi feita em 1937 e a 2º em 1941.
Em janeiro de 1939 fui nomeado, pelo Ministro do Trabalho, para membro da Comissão de Metrologia do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, no Rio de Janeiro. Em 1942, desfeita a comissão, foi a mesma reorganizada pelo chefe da Nação, tendo seus membros sido reconduzidos e recebido das mãos do Sr. Ministro do Trabalho seus títulos de nomeação, assinados pelo Presidente da República, quando tomaram posse, no Ministério do Trabalho, no mês de junho.
Em março do mesmo ano, tendo-se fundado a Faculdade de Filosofia da Universidade de Porto Alegre, fui convidado para lecionar a cadeira de física dos cursos de matemática e física, cargo que aceitei e exerço.
Desde 1940 tenho ido, todos os anos, ao Rio de Janeiro, para assistir ás reuniões da Comissão de Meteorologia, tendo levado nessas viagens minhas duas filhas mais velhas Ione e Helena, minha esposa e meus filhos Glauco e Paulo.
Em 1948 a Editora Coruja publicou minhas Notas de Física, lecionadas na Escola de Engenharia da Universidade do Rio Grande do Sul, antiga de Porto Alegre.
Eis, em rápidos traços, a história de minha vida que tem sido, graças a Deus, uma reta desde o seu início e que, apesar de apagada e sem nenhuma expressão, também não tem tido sinuosidades que a enfeiem e a deformem, embora eu não esteja livre dos pequenos defeitos próprios da contigência humana e que a todos é peculiar.
Criado e educado na religião cristã, tenho sido toda a vida católico praticante e assim espero ser o resto dos meus dias, com o favor de Deus.
Porto Alegre, 6 de setembro de 1950.
Mário da Silva Brasil”