segunda-feira, 21 de julho de 2008

A família Pufal (I): biografia de João Luiz Pufal

A FAMÍLIA PUFAL (I): 
biografia de João Luiz Pufal


Autoria de Diego de Leão Pufal

[atualizado em 04/11/2013]

JOÃO LUIZ PUFAL
João Luiz Pufal, meu bisavô, nasceu no dia 08 de dezembro de 1892, às 22 horas, na então vila de Alfredo Chaves, atual cidade de Veranópolis, na serra gaúcha, tendo sido registrado[1] com o nome de “Johann Buffal”. Era filho dos imigrantes poloneses[2]Jacob Pufal e Emilie Doppler, ambos emigrados no ano de 1890 para o Brasil, estabelecidos em Nova Prata, então distrito de Veranópolis e, assim como os demais, gente de poucos recursos.
O pai, Jacob, dada sua profissão de construtor, não permaneceu muito em Veranópolis, vindo com a família para Porto Alegre nos idos de 1894/1895 em busca de novas oportunidades e também por não ser um “tradicional colono” ligado ao cultivo da terra. Além disso, os outros imigrantes que lá moravam, à semelhança de Jacob, não tinham posses, viviam da agricultura e do parco comércio de animais, o que não poderia imprimir um futuro digno à família, visto a profissão de Jacob no início de uma colônia frente ao progresso de Porto Alegre para a época.
Na capital gaúcha estabeleceram-se, como a maior parte dos imigrantes alemães, italianos e poloneses, no que é hoje o Quarto Distrito de Porto Alegre, nas cercanias das Avenidas Minas Gerais (hoje Av. Farrapos), São Pedro, da Fábrica (hodierna Guido Mondim), enquanto os “assuntos da alma” eram tratados pelo vigário da igreja de N.ª Sr.ª da Conceição, visto que a capela de N.ª Sr.ª dos Navegantes passou a existir a partir de 28-4-1897, sendo elevada à paróquia somente em 28-6-1919, das quais os Pufal eram fregueses.
Nessa época, João Luiz, com três anos de idade, deve ter iniciado as primeiras letras no Colégio São José em Porto Alegre. Contudo, embora a condição financeira dos pais, sabe-se que aprendeu o alemão e o francês, além do português, sem prejuízo do polonês que deve ter aprendido em casa, a indicar que teve uma boa base educacional.
Nesse tempo, em 27-02-1895, já em Porto Alegre, nasceu a primeira irmã de João Luiz que levou o nome de Rosália, tomado de sua tia Rosalie Pufal Gliese – (e batizada na igreja de N. Sra. da Conceição em 14-04). Dois anos depois, isto é, a 07-02-1897, nasceu o irmão Adolpho (batizado na mesma igreja em 18-04) que levou o nome do avô paterno Karl Adolph Pufahl –, seguido pelo irmão Eduardo, nascido a 24-07-1899 (batizado a 05-11-1899 na capela de N. Sra. dos Navegantes) que, por sua vez, teve o mesmo nome do tio Edward Pufahl. Por fim, teve mais uma irmã, Ida Emma Pufal, nascida em 12-10-1902 e falecida aos dois anos de idade, no dia 1°-02-1905.
Com o considerável crescimento e estouro populacional de Porto Alegre no final do século XIX, dado o grande número de emigrantes italianos e poloneses principalmente que aqui chegaram a partir de 1875, Jacob conseguiu amealhar alguns recursos com o seu mister de construtor, tanto que entre 1900 e 1904, já era proprietário de um terreno na Avenida Minas Gerais (n.° 12), pois em 04-05-1904 adquiriu do cunhado Julius Nitzke outro na mesma rua, onde se fixou como construtor e fez a própria casa: um sobrado de madeira verde, com avarandado, conforme informação de Adolpho Gliese.
João Luiz vendo a prosperidade do pai – recorda-se que Jacob chegou ao Brasil com muito poucos recursos –, decidiu seguir sua profissão, tendo sido, aos 17 ou 18 anos de idade, responsável técnico de sua provável primeira construção na Avenida Cristóvão Colombo, contratada por D. Quintina Carolina Bastos, seguida por obras na Capela de N. Sra. dos Anjos (gótica), na Avenida do Rosário, n.° 133, ambas nos anos de 1909 e 1910, sem prejuízo daquelas em que auxiliava seu genitor.
Entre 1910 e 1914, não se encontrou qualquer registro das atividades de J. L. Pufal. Porém, de um postal que remeteu aos irmãos em 1912, com os dizeres seguintes: “Buenos Aires, 1 Julio de 1912. Queridos Irmãos. Hoje com muito custo terei o dinheiro do Banco e chegarei com o Vapor Áustria, já comprei a pasaje muito cara, talvez lá por 12-13 julio estou outra vez em casa. Salud e Felicidade do vosso irmão João L. Pufal”, é de se supor tenha ido a Buenos Aires – onde a área da construção civil era deveras avançada –, fazer algum curso objetivando aprimorar sua técnica. Prova é que, a partir de 1915 o volume de suas construções cresceu consideravelmente, bem assim o fato de ter se associado ao pai e aos irmãos, Adolpho e Eduardo, para novas empreitadas.
Casa projetada e construída por João 
Luiz Pufal na Avenida São Pedro, 
em Porto Alegre, quase esquina com 
a Avenida Bahia, 
em meados de 1924/1926. 
Salienta-se, neste ponto, que o estilo utilizado por João Luiz em seus projetos não era de um simples construtor, pois sua técnica indica que teve muita instrução nas áreas da engenharia e arquitetura. Realizada as plantas respectivas em escala apropriada e com a previsão do material (quantidade e qualidade) a ser utilizado, sem falar nos detalhes dos prédios, geralmente artísticos e usados à época. Além disso, conservam-se até hoje materiais próprios de desenho a ele pertencentes: réguas, calculadoras, livros de cálculos e um bom acervo de livros e revistas próprios de arquitetura editados na Alemanha em 1898 em diante.
Em meados de 1920 encontrou-se João Luiz com um “Escriptorio Technico Commercial” na Avenida Minas Gerais, n. 12, em casa de seus pais.
Julieta e João Luiz Pufal (1928/1930)
Nesse ínterim, J. L. Pufal conheceu sua futura esposa Florentina Therese Jacks que, segundo dizem, era muito bonita. Flora, como era conhecida, nasceu em Porto Alegre em 04-04-1893, onde foi batizada a 1°-05-1898 na comunidade evangélica, sendo filha de Franz Gabriel Heinrich Jacks (Gabriel Jacks), natural de São Leopoldo, proprietário de um armazém de secos e molhados, açougueiro e fabricante de linguiça, com estabelecimento comercial no Caminho Novo (atual Rua Voluntários da Pátria), e de Anna Theresa Louise Weisshand, natural de Berlin Stadt, Brandenburg, Alemanha. O casamento de João Luiz e Flora ocorreu em 16-07-1914, na Capela São José dos Alemães, na Avenida Alberto Bins em Porto Alegre, quando contavam 22 e 21 anos respectivamente. Deste casamento houve os filhos Jorge Marcelino Pufal, nascido a 31 de março de 1916 em Porto Alegre; Júlio Clóvis Pufal, nascido a 1° de julho de 1919 em Porto Alegre e foi batizado juntamente com o irmão Jorge, em 07-12-1919, o qual veio a falecer em tenra idade, aos cinco meses no dia 18-12-1919 na Santa Casa de Porto Alegre, de gastroenterite; Edith Pufal, nasceu a 17 de julho de 1920 também em Porto Alegre, onde foi batizada com um ano na igreja N. Sra. dos Navegantes, mas faleceu em seguida aos 28-12-1921; Dorothy Pufal, nasceu aos 19 de novembro de 1923, onde faleceu com menos de um ano, todos em Porto Alegre. Em decorrência do parto da filha Dorothy, Flora Jacks veio a falecer no dia 27 de novembro de 1923.
Casa projetada e construída por João 
Luiz Pufal na Avenida São Pedro,
 em Porto Alegre, quase esquina com 
a Avenida Bahia, em meados de 1924. 
A perda de três filhos e da esposa em menos de cinco anos não deve ter sido nada fácil para João Luiz Pufal que ainda sozinho teve que criar o filho Jorge, apenas com sete anos. Em meio a isto, deve ter buscado forças com os pais e irmãos, assim como com os colegas maçons, pois ingressou na maçonaria no mesmo ano de 1923 - da Loja São João. Nestes tempos (03-02-1923), J. L. Pufal já era construtor licenciado em alvenaria, concreto armado e estacaria naval, registrado na Prefeitura de Porto Alegre com o irmão Eduardo Pufal, ambos residentes na Avenida São Pedro, n. 79-G, o que se seguiu até o ano de 1924, pois em 13-01-1925 ele aparece estabelecido na Av. Bahia, n. 46A, enquanto que Eduardo, na Av. Ernesto da Fontoura, n. 117. Já em 20-01-1927 consta como residente na Av. São Pedro, n. 792B e, a partir de 27-01-1928, na Av. São Pedro, n. 878, e, no ano de 1932, no mesmo endereço.
Foi exatamente na década de 1920 que J. L. Pufal construiu inúmeros prédios em Porto Alegre, cujos passos foram descritos por Günter Weimer no livro "Arquitetos e Construtores no Rio Grande do Sul"[3]:
"PUFAL, João Luiz: Nasceu em Alfredo Chaves, em 8.12.1892. Intitulava-se arquiteto-construtor, porém sua licença era simplesmente de construtor de prédios de até quatro pisos e vãos de até 10 metros. Antes de se registrar no CREA, porém, havia construído algumas obras significativas como o Cine-Teatro Orfeu; a fábrica de móveis Walter Gerdau (esquina da Voluntários da Pátria com a Brasil), em 1924; a fábrica da Companhia Fiação e Tecidos Porto-Alegrense (FIATECI), na esquina da Voluntários com a São Pedro, no ano seguinte; o edifício da Companhia Predial e Agrícola, na Rua 7 de Setembro (já demolido); os armazéns de Azevedo Bento & Cia., também na Voluntários da Pátria, e dois trapiches. Em 1918, construiu a Sociedade Gondoleiros, na Av. Eduardo (hoje, Presidente Roosevelt). Ao que tudo indica, os projetos dessas obras foram desenvolvidos por seu irmão Eduardo. Assinou 20 projetos (entre 1910 e 1938), constantes nos documentos do arquivo da PMPA, dos quais dois foram de autoria de Franz Filsinger, o que é mais um indicativo de que sua atuação deve ter sido prioritariamente na área da construção. Em 1956, solicitou baixa no CREA por estar afastado havia dez anos da profissão por motivo de doença (CREA n. 699). Suas fábricas, no chamado ‘estilo utilitário’, à sua época representaram um considerável avanço em direção à arquitetura moderna".

Afora tais projetos, outros foram realizados por Pufal ao longo da década de 1920 e 1930, quais sejam: 

· 1918/1919 - obra própria na Av. Eduardo (hoje, Presidente Roosvelt), n. 283;
· 1921/1922 - Football Club Porto Alegre, na rua José de Alencar esquina Gonçalves Dias.
· 1924/1925 - edifício Possidônio da Cunha, na Av. Sete de Setembro, 137.
· 1925/1926 - edifício Tuiuti de David Fischmann, na rua Riachuelo esquina Paissandu. 
· 1926 - uma casa para Carlos Hoffmeister, na Rua Garibaldi.
· 1927 - uma construção para Armando Barcelos da Silva, na Av. Júlio de Castilhos.
· 29/02/1928 - para Ludwig Martinack, na Av. Pernambuco, um prédio de madeira com área de 61,50 m2.
· 01/03/1928 - prédio de João Luiz Pufal, na da Av. Fábrica (hoje Guido Mondin), um prédio de alvenaria, com 89,88 m2.
· 19/03/1928 - prédio de alvenaria para Armando Barcelos da Silva, na Av. Julio de Castilhos, com 14,50 m2.
· 26/03/1928 - prédio misto de João Luiz Pufal, na Av. Fábrica, com 267,75 m2.
· 26/06/1928 - prédio de alvenaria para Walter Gerdau, na Av. Brasil, com 126,00 m2.
· 26/06/1928 - prédio de madeira para Walter Gerdau, na Av. Voluntários da Pátria, n. 3490, com 204,75 m2.
· 17/09/1928 - prédio de alvenaria para Theophilo Müller, na Av. Riachuelo, com 355,20 m2.
· 24/09/1928 - prédio de alvenaria para Armando Barcelos da Silva, na Av. Júlio de Castilhos, junto ao n. 144, com 284,00 m2.
· 13/11/1928 - prédio de madeira para Azevedo Bento e Cia, na Rua Larga, n. 72, com 135 m2.
· 1928/1929 - construção para Eugênio Rubbo e Franz Filsinger, na rua Santo Inácio.
· 1929 - construção para Clóvis Souza Gomes e Franz Filsinger, na rua Mário Totta, 27.
· 16/01/1929 - prédio de alvenaria para José Moretto, na Av. Voluntários da Pátria, 2493, com 21,15 m2
· 21/06/1929 - prédio de alvenaria para a Comunidade Ev. Luterana, na Av. União, 31, com 144 m2.
· 01/02/1929 - prédio de madeira para Agrimério da Câmara Bandeira, na Av. Paraná, com 42,80 m2.
· 04/02/1929 - prédio de alvenaria para Ervedoza, Lino e Cia, na rua Dr. Flores, 53, 59 e 63, com 450,18 m2.
· 18/02/1929 - prédio de alvenaria para Sebastião Adam, na Rua Boa Vista, 2839, com 10 m2.
· 04/02/1929 - prédio de madeira para Adolpho Gliese, na Av. Veneza, com 45,15 m2.
· 01/03/1929 - prédio de alvenaria para José Moretto, na Av. Voluntários da Pátria, 2439, com 36,22 m2.
· 07/03/1929 - prédio de alvenaria para Leopoldo Roberto Müller, na Av. Pará, com 75 m2.
· 13/03/1929 - prédio de alvenaria para Fernando de Andrade Silveira, na Rua Avahy, com 118 m2.
· 05/03/1929 - construção de uma frente de ferro para Francisco Tanhauser, Av. Voluntários da Pátria esq. Rio Branco. 
· 25/03/1929 - prédio de alvenaria para Emílio Möllerke, na rua Moura Azevedo, junto ao n. 365, com 130,35 m2 .
· 05/04/1929 - prédio de alvenaria para Antônio Matusiak, na Estrada do Mato Grosso, com área de 43,20 m2.
· 29/04/1929 - para a viúva de Albino Cunha um prédio de madeira, com 46 m2, na Av. Missões. 
· 15/05/1929 - reconstrução da fachada para Francisco Tanhauser, na Av. Voluntários da Pátria esq. Rio Branco.
· 06/06/1929 - melhoramento da fachada para Dr. Possidônio da Cunha, na Rua Dr. Ribeiro, 116.
· 11/06/1929 - prédio misto para a viúva de Albino da Cunha, na Av. Missões próximo ao n. 88, com 68 m2. 
· 12/06/1929 - prédio de madeira para Germano Born, na Av. Veneza, junto ao n. 15, com 26,40 m2.
· 1929/1930 - Colégio Concórdia, na Av. Eduardo (Presidente Roosvelt).
· 05/02/1930 - prédio de alvenaria para Tannauser e Cia, na rua Marques do Pombal, 79, com 1.473,00 m2.
· 05/04/1930 - prédio de madeira para Jacob Pufal, na Av. União, 643, com 67,00 m2.
· 03/06/1930 - prédio para Tannhauser e Cia Ltda, na rua São Rafael, 79.
· 20/06/1930 - prédio de madeira para Honorina Jardim, no Passo da Areia, com 22,00 m2.
· 30/06/1930 - prédio de madeira para Walter Johann e Alfredo Johansson, rua Dr. João Inácio, com 46, 50 m2.
· 22/07/1930 - prédio de alvenaria para Rubbo e Irmão, na Av. Bonfim,198, com 26 m2.
· 19/08/1930 - prédio para Francisco Tannhauser, na Praça Visconde de Rio Branco, 222.
· 08/09/1930 - prédio de alvenaria para Pauline Trollé Chartier, na Estrada Passo da Areia, junto ao n. 427, com 133,32 m2.
· 08/01/1931 - prédio de madeira para Fernando Wagner, na rua Cel. Feijó, 404, com 35,60 m2.
· 14/01/1931 - prédio para Esperança e Cia., na Av. Eduardo, 1388.
· 1934 - prédio para Arnaldo Bercht, na Av. Cel. Marcos (provavelmente trata-se da sede da Sociedade Veleiros do Sul).
· 1936 - prédio para Adolfo Liedke, na Av. Benjamim Constant.
· 1936/1937 - Edifício Antônio Dias Lopes Guedes, na Rua Barros Cassal, 49.
· 1938 - residência de Willy Nuhr, na rua Félix da Cunha, n. 751.
· 1938 - prédio para Adalberto Câmara, na Rua Riachuelo, 945.


Em 19-08-1924, aos 32 anos, J. L. Pufal ao retirar "Carta de Identificação e Estatística Criminal”, foi descrito como viúvo, branco, olhos castanhos, altura: 1,64 cm de altura, barba feita, cabelos castanhos médios (sic), bigode raspados, “architeto-construtor”, carteira 18L, registro n. 699 do CREA. 

Passados alguns meses do falecimento de Flora, João Luiz conheceu a sua futura esposa, Julieta Corrêa da Silva, que trabalhava no Café Sport localizado na Av. Eduardo, n. 45, hoje Presidente Roosewelt, pertencente a Emílio e sua mulher Maria Suhr. Casaram-se em 02 de setembro de 1924 no oratório particular da noiva [4].

“Vó Julieta” nasceu no dia 1° de outubro de 1900 em São Leopoldo, onde foi batizada a 18 de novembro do mesmo ano, com o nome de Maria Júlia Olívia, sendo filha de Raymundo Corrêa da Silva e de Maria Paulina Mayer, da mesma família de João Corrêa Ferreira da Silva, de quem era prima. 
Raymundo Corrêa da Silva nasceu em 30-08-1845 em São Leopoldo, onde faleceu a 06-02-1915. Desempenhou vários cargos públicos na então vila de São Leopoldo, onde foi delegado de polícia, tenente-coronel, sub-intendente (vice-prefeito) do 1° Distrito de São Leopoldo, presidente do Conselho da Instrução Pública, juiz de paz, dentre outros. Era filho do açoriano e patriarca da conhecida família “Corrêa da Silva” do Vale do Rio dos Sinos, o capitão José Corrêa Ferreira da Silva, que fez a Revolução Farroupilha e parte da vereança de São Leopoldo, em 1857 como presidente da Câmara de Vereadores, depois escrivão, e da alemã Carolina Henriette Marianne Koch, de Hannover. Maria Paulina Mayer era também de São Leopoldo, onde nasceu a 05-02-1869 e faleceu dias depois do marido, em 22-02-1915, sendo filha de Jacob Mayer, chamado de “capitão” e sapateiro de profissão em São Leopoldo, onde nasceu em 1836, e da alemã Katharina Kilpp, de Stipshausen, Rhaunen, imigrada no ano de 1848, com os pais e irmãs.

Em seguida ao casamento, Julieta engravidou, nascendo em 10 de junho de 1925 os gêmeos Pedro (meu avô) e Paulo Corrêa Pufal, batizados em 05-09-1926 na igreja São Geraldo. Ambos estudaram no colégio São Pedro e foram conhecidos comerciantes do Quarto Distrito no ramo de vidros e automóveis.
Com o nascimento dos primeiros gêmeos da Avenida São Pedro, como eram conhecidos, J. L. Pufal teve que projetar uma casa maior para a família. Para tanto comprou em 1926 um terreno na Avenida São Pedro esquina Av. Bahia, onde projetou e construiu três residências, de n.° 878, 888 e 890 que até o ano 2000 existiam, dando depois lugar a um estacionamento, lamentavelmente. Cinco anos depois, em 09-10-1930, nasceu a terceira filha do casal que levou o nome da mãe, Julieta (Julietinha), casada em 1953 com Walmir Francisco Giordani, e em 14-09-1936 a quarta filha, Beatriz Corrêa Pufal, casada em 1958 com Nelson Catharino Machado.
Os gêmeos Pedro (meu avô) e Paulo Pufal, com a mãe, Julieta Corrêa Pufal (1925):




Cinco anos depois, em 09-10-1930, nasceu a terceira filha do casal que levou o nome da mãe, Julieta (Julietinha), casada em 1953 com Walmir Francisco Giordani, sendo pais de: Paulo Roberto, Josiane Rita e Marcelo Pufal Giordani. Walmir e Julietinha foram proprietários durante anos da Livraria Mundial, localizada na esquina da Av. São Pedro e Av. Bahia. Em 14-09-1936 nasceu a quarta filha, Beatriz Corrêa Pufal, casada em 1958 com Nelson Catharino Machado, sendo pais de: Carlos e Álvaro Pufal Machado, residentes em São Gabriel, onde são comerciantes.

Como referido, J. L. Pufal continuou durante esses anos com o seu mister, construindo diversos prédios, cujos frutos permitiram-lhe amealhar considerável fortuna e fama em sua área. Diante de sua boa condição financeira e sua paixão pela tecnologia e novidades, em dezembro de 1927 prestou exame médico para tirar a sua carta de motorista, adquirindo em seguida o seu primeiro automóvel. Comprava, além disso, muitos livros (técnicos e enciclopédias) e revistas de arquitetura, os primeiros vindos da Alemanha e depois de Buenos Aires, além de discos e rádios, até o advento da televisão. Ainda na década de 1930 mandou vir da Inglaterra uma filmadora e o respectivo projetor, fazendo filmes de sua família em ocasiões especiais e de algumas viagens que fazia a São Leopoldo e a Novo Hamburgo para visitar os parentes da esposa, bem assim de acontecimentos que ocorriam em Porto Alegre, como a exposição Farroupilha de 1935. Infelizmente, muitos desses filmes não mais existem, mas muitos narram até hoje a emoção do público – a Av. São Pedro em peso – quando os projetava, relembrando principalmente os que já tinham falecido. Da mesma forma, costumava fotografar muito, inclusive as construções que realizava, mas muitas das fotografias também se perderam.

João Luís Pufal faleceu no dia 10-08-1957, à 1:00 hora – quando o neto Helmuth fazia sete anos – de insuficiência cardíaca, tendo sido sepultado no cemitério São José dos Alemães em Porto Alegre, com sua primeira mulher e filhos, cujo túmulo infelizmente não mais existe.
Em razão da personalidade que foi J. L. Pufal e de sua sensível contribuição para a “construção de Porto Alegre”, no ano de 1974 foi proposto um projeto de lei pelo vereador João Dib, dando o nome de João Luiz Pufal a uma rua no Bairro Sarandi, no Quarto Distrito de Porto Alegre. A exposição de motivos apresentada, tirante alguns equívocos, traduz bem em breves linhas o bisavô e nosso biografado:
“JOÃO LUIZ PUFAL, * em 12[5] de dezembro de 1892 e falecido em 10 de agosto de 1957. Era filho do Sr. Jacob Pufal e da Sra. Emilia Pufal, naturais da Alemanha[6]. Tinha João Luiz Pufal dois anos de idade quando veio para o Brasil[7]. Fez seus primeiros estudos no Colégio São José.
Era construtor licenciado pelo C.R.E.A. em concreto armado em edifícios – estacaria Naval. Construiu as estacas dos armazéns do Cais do Porto em Porto Alegre; foi fundador e construtor do Colégio São José; construiu o Colégio Bom Conselho e o estaqueamento da ponte sobre o Rio Gravataí, que dá trânsito até a data de hoje.
Residiu no 4.° Distrito por 63 anos, e foi o fundador e o construtor da antiga sede da Sociedade Gondoleiros, localizada na Av. Eduardo, hoje Av. Presidente Franklin. D. Roosewelt.
Ao lado de D. Julieta, sua dileta e dedicada companheira, participou de inúmeras campanhas piedosas e de assistência social, particularmente as que se desenvolveram no 4.° Distrito, ao qual o casal oferecia a paga da generosa acolhida e do grande apreço que sempre lhe foi dispensado. Fundador de várias entidades, inclusive de práticas esportivas, pertenceu durante longos anos ao quadro associativo da Sociedade Gondoleiros, tendo ocupado, nesse sodalício, que tão assinalados serviços tem prestado à comunidade dos bairros industriais do município, os mais diferentes cargos, distinguindo-se em todos eles por um acentuado e excepcional dinamismo e por um consciencioso espírito de iniciativa, deixando neles a marca de sua abnegação, do seu amor às causas nobres e meritórias que ali tiveram curso, fazendo jus aos aplausos irrestritos, não só de seus pares, mas de todos os que tiveram a oportunidade de certificar-se do seu alto espírito público e da nobreza das virtudes que lhe inspiravam as ações, o altruísmo, a tendência inata à filantropia, traduzida numa invulgar sensibilidade aos dramas humanos e aos problemas sociais.
Dotado de um profundo senso de religiosidade dando conseqüência aos misteres caritativos que o empolgavam, empenhou-se a fundo para assegurar a sobrevivência da “Casa das Velinhas” a qual, se não se ressente, hoje, da sua falta, é porque vingaram os seus feitos anteriores e o exemplo por ele legado à posteridade.
Por esse acervo de razões é que está sendo apresentada esta indicação, visando à prestação de uma homenagem à memória de um homem que revestiu a sua vocação para o exercício da sociabilidade de um primoroso cunho de solidariedade cristã, transformando-se num paladino das boas causas e numa legítima expressão dos melhores valores éticos e morais da sociedade do nosso tempo.
Convém deixar assinalado que, para ele, o amor aos semelhantes era, realmente, a primeira letra do alfabeto em que ele definia e respaldava a prática do bem. Ao contrário dos que têm muito em bens materiais, mas em que conservam o coração empedernido, João Luiz Pufal, comprazia-se em epidermizar o seu com o veludo da filantropia, dentro de um singular anonimato, e forrá-lo com o arminho das virtudes que caracterizam a dignidade e a superioridade do espírito humano.
O alvo da indicação que se oferece ao apreço dos nobres colegas da Edilidade, desaparecido aos 65 anos de idade, em 10 de agosto de 1957, além de sua esposa, já nomeada no preâmbulo desta justificativa, deixou numerosa prole constituída por 4 filhos,[8] 2 do sexo masculino, dois do sexo feminino: Pedro Pufal, sócio gerente da Casa Genta e Paulo Pufal, proprietário da Indústria Vidro-Car e 10 netos[9], a lamentar-lhe o desaparecimento. Sala das Sessões, 4 de novembro de 1974. João Dib.”
Julieta Corrêa Pufal faleceu trinta e um anos depois do marido, no dia 16 de agosto de 1988, aos 88 anos de idade, e foi sepultada junto com o esposo.
João Luiz Pufal teve no total oito filhos (três falecidos ainda pequenos, sendo que apenas uma ainda vive), treze netos, vinte e seis bisnetos (dois já falecidos) e até o momento nove trinetos (2013). Destes, somente trinta e três seguem com o sobrenome Pufal, sendo que apenas doze (homens) vão, em princípio, passá-lo às seguintes gerações.  
NOTAS:
[1] Foram testemunhas do registro de seu nascimento: Giocondo Corrent e Luigi Conte. O batismo de João Luiz Pufal não foi possível encontrar.
[2] À época em que Jacob Pufal e Emilie Doppler emigraram para o Brasil não existia propriamente dito o estado polonês, eis que a Polônia estava dividida entre a Rússia, Áustria e Prússia.
[5] Nasceu a 08-12-1892
[6] Naturais da Prússia, hoje território polonês.
[7] Nasceu no Brasil, veio com dois anos de sua cidade natal Alfredo Chaves, hoje Veranópolis.
[8] Foram cinco os filhos.
[9] Treze netos.