segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Poesias de Mário Brasil


Teu Amor


Nas fimbrias do horizonte rubro, ensangüentado,
Do sol fenece a luz;
Crepuscular clarão mui vago há perpassado...
E a treva se produz.

Reina por toda parte um silêncio profundo
E escuridão sem fim,
Mas um vago lampejo aclára após o mundo
E a treva morre enfim.

E a lua que surgindo bella e illuminada
Se mostra tão faceira
Por sequitos de estrellas lindas cortejada
Na celestial esteira.

E’ella que derrama agora do infinito
Sua luz argentea e pura,
Sua luz, olhar de Deus, sua luz, osc’lo bendito
Tão cheia de candura.

Mas essa luz serena, limpida e prateada
Em breve morrerá
Com o fulvido raiar da fresca madrugada
Que a sobrepujará.

Assim como essa luz também, anjo querido,
Foi teu ardente amor,
Mas como ella perdeu assim elle há perdido
Seu mágico fulgor.

Findou portanto, agora, o fogo da amizade
Que me tiveste, oh flôr,
E a chamma se apagou da minha felicidade
Morrendo o teu amor.

Brotou, mulher querida, a triste desventura
No pobre peito meu,
Porque me arrebataste a unica ventura
Nascida do amor teu.

Oh não me firas mais da ingratidão có a lança
Mulher que sei amar,
Mas dá-me, por perdão, te rogo, uma esperança
Na luz do teu olhar!

Oh, dá-me, não me negues, virgem seductora
O que te peço então,
Porque minh’alma é tua, oh flor encantadora,
E é teu meu coração!

Santa Maria, 27-10-1909.