BREVE HISTÓRICO DA CASA GENTA M. GENTA, SCHMIDT
& CIA
Autoria de Diego
de Leão Pufal
[atualizado em 25/11/2013]
A história da Casa Genta inicia-se em 1906 em
Porto Alegre/RS com o fundador Antônio Genta, uruguaio, nascido em Montevidéu
em 13 de outubro de 1879 e falecido em 1943 em Porto Alegre, filho do italiano
Giuseppe Genta e de Balbina Salaberry, uruguaia.
Sabe-se que em meados de 1906 Antônio casou-se
com Albertina Sofia Fischer e, desde então, passou a trabalhar com vidros em
seu laboratório localizado na então Rua Floresta, n.º 19, atual Avenida
Cristóvão Colombo, em Porto Alegre/RS, juntamente como o irmão Miguel Aníbal
Genta, nascido em Buenos Aires em 05 de julho de 1885 e o cunhado Arthur Felipe
Fischer. O capital empregado no começo da fábrica de vidros foi de 25 contos de
réis, passando anos depois para 220 contos de réis por ano, a demonstrar a
carência de especialistas do gênero no Rio Grande do Sul, bem como o tino
comercial do fundador, conforme mencionada na obra Cinquantenario della
Colonizzazione Italiana nel Rio Grande Del Sud, de 1925 (p. 372):
“Antonio Genta Uno dei reparti piú visitati e
piú ammirati dell´Esposizione Del Cinquantenario fu Il chioschetto
artisticamente disposto della “Casa Genta”, coi suoi specchi, Le sue incisioni
su vetro per chiese. Questa casa é l´única del genere in Porto Alegre,
appartenente ad italiani, casa bem montata e bem avviata e nella quale viene
eseguito qualunque lavoro del ramo com la massima perfezione.
Il signor Genta non é nato in Itália, ma
italiano di Altari era Il padre suo, che, nella sua rudezza ligure, impartí al
figlio l´amore all´Italia e al lavoro. Ed é per questo Che Il signor Genta si
ritiene italiano e prende parte attiva Allá vita della nostra colonia.
Egli nacque dunque a Montevideo Il 13 Ottobre
1879 e si trasferi in Brasile dopo essersi perfezionato nella sua arte in
quella grande metropoli. Apri pochi anni fa La sua fabbrica com um modesto
capitale di 25 contos di reis. Ma La sua capacitá, attivitá ed avvedutezza
fecero si Che l´azienda prosperasse in modo da avere al giorno d´oggi um giro
d´affari sorpassante 1 220 contos di reis annualmente.
Il laboratório di Antonio Genta sito in via
Floresta n. 19 é uma vera fucina d´arte. Le incisioni e adorni Che Il sig.
Genta as cosi magistralmente eseguire su specchi, vetri, paralumi, lampadari,
cornici, Fiori, ecc. riproducono la piú pura arte veneziana.
Le materie impiegate per la lavorazione:
cioé, vetro, argento e ingredienti chimici, la maggior parte pervengono
dall´estero, altri sono di produzione brasiliana.
La fabrica é montata com tutti i sistemi
moderni ed é in locale apposito adibito a negozio. Oltre che alla fabbricazione
di specchi, incisioni ed ornamenti su vetro, si occupa purê di qualunque altro lavoro
del genere, artistico e commerciale, e alle riparazioni di ogetti congereni.
Ill giro d´affari del sig. Genta si estende a tutto lo Stato.
La casa Genta fu premiata com medaglia di
bronzo nell´esposizione di Chicago ció che dimostra che la sua rinomanza varca
anche le frontiere. Fu purê premiata com medaglia d´oro all´esposizione
industriale di Porto Alegre e a quella del Cinquantenario Italiano.
Il signor Genta é purê provetto disegnatore
ed ottimo ragioniero, uomo istruito e buono cittadino. Doti tutte che
concorrono ad elevarlo nel concetto pubblico e ad allagare sempre piu Il suo
commercio"[1]
Arte esta que foi aprendida desde muito cedo por
Antônio e Miguel, visto que o pai, Giuseppe Genta, logo após emigrar da Itália
para o Uruguai, cerca de 1875/1877, já passou a exercer a profissão
possivelmente apreendida em Gênova e Altari, esta última, sua cidade natal, eis
que reproduzia a arte veneziana, assim como seus filhos. Foi em Montevidéu, na Calle
Paissandu, n.º 148, onde teria se fixado com uma indústria de artes em
vidros e espelhos, local em que certamente seus filhos aprenderam o trabalho
que anos depois criou vulto na Capital Gaúcha.
Nesse ínterim, em 1913, enquanto Antônio
administrava os negócios, o irmão Miguel viajava pela Europa, em busca de novas
técnicas no trabalho do vidro, maquinários e artesões, onde permaneceu até 1920
ou 1921, em virtude da I Guerra Mundial.
Vitraux existente em frente à Capela de N. Sr. dos Passos, na Santa Casa de Porto Alegre. |
Detalhe do vitraux acima que leva a assinatura de Max Dobmeier e que, em 1941, teria sido restaurado por Judith Fortes. |
“CASA GENTA
A rua do Parque n.º 437, em um dos pontos
mais comerciais da capital dos pontos mais comerciais da capital rio-grandense,
acha-se estabelecido o nosso amigo, Sr. Miguel Genta, o qual, por seu prestígio
mercantil e social, firmou-se, desde muito, em uma situação próspera e
invejável.
A “Casa Genta”, que negoceia com o ramo de
vidros, vitrinas e “vitreaux”, tornou-se uma das mais acreditadas no gênero,
não só pela honradez de suas transações, como pela perfeição da indústria que
explora.
“Vitreuax” para igrejas que são ali
fabricados, com um requinte artístico, que incita ao misticismo e exerce uma
saudável pressão sobre a estese religiosa. Daí, a grande procura do artigo,
nesta e em várias praças.
Na fabricação de vidros e vitrinas,
igualmente, o esmero não é menor, sendo a produção em larga escala.
Cidadão de fino trato social, o Sr. Miguel
Genta possue o condão de transformar os freguezes em amigos, razão pela qual
solidificou, de modo apreciável, a sua prosperidade e o seu conceito comercial.
É uma das firmas mais conhecidas de nossa
praça, tendo radicado o seu prestígio através do interior do Rio-Grande-do-Sul.
Desnecessário se torna recomendá-la,
entretanto, nos é grato fazermos propaganda da “Casa Genta”, onde qualquer
pessoa, por mais exigente que seja, sentir-se-á satisfeita, pelo preço e
perfeição dos artigos.
Tendo principiado como operário no ano de
1923, por um desses golpes de audácia, tão férteis no espírito dos afeitos ao
trabalho profícuo e nobilitante, fundou a firma, conhecida sob a razão social
de M. Genta & Schmidt, a qual, em menos de 15 anos de existência,
conquistou, de modo absoluto, os mercados nacionais.
Do modesto capital primitivo, apenas 25
contos, pode a faina ininterrupta estabelecer o capital atual de mais de 1.000
contos, prova cabal de uma prosperidade indiscutível.
Facto digno de nota é o tratamento
dispensado, ali, ao elemento proletário, do qual, se é verdade que depende,
diretamente, a vitalidade da casa, não é menos verdade ser ele muito bem pago,
além de estar no pleno gozo das garantias, que lhe são asseguradas pela nossa
legislação trabalhista.
O Sr. Miguel Genta, cuja fotografia acima se
vê, é cidadão brasileiro, em cujo lar honrado reina, felizmente, a fartura, em
meio de um ambiente encantadoramente familiar.
Esposo amantíssimo e pai dedicado, revê-se,
com orgulho, nos filhos, os quais, tirados, já, os preparatórios, no acreditado
Ginásio Anchieta, apresentam-se para seguir, nas veredas sociais, o exemplo de
atividade e honradez, que lhes foi dado por seu digno pai.”
Vitrais feitos pela Casa Genta, pelo artista Max Dobmeier.
Encontram-se na Santa Casa de Porto Alegre (administração)
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Inicialmente a curvatura dos vidros era feita
pela própria Casa Genta, cujas chapas (de vidro) provinham da Bélgica e
Inglaterra (da fábrica Bilkenston Brother), mais tarde de São Paulo, da empresa
de Vicente Cracasso. Chegavam por mês vários navios da Europa carregados com
chapas de vidros, todos destinados à Casa Genta, oriundos, como referido,
principalmente da Inglaterra e Bélgica, cujo “desembarque” era conferido
diretamente por Miguel Genta no porto da capital. Dentre os artistas e artífices
que compunham o corpo técnico da empresa, conseguiu-se resgatar alguns nomes,
dentre eles: Max Dobmeier, alemão, especialista em pinturas de vitrauex nas
décadas de 1940/1950, Lorenz Heilmaier, alemão, também especialista em
vitrauex, década de 1950, Hugvet, espanhol, desenhista e projetista, durante as
décadas de 1940/1980, François Ferdinand Urban, desenhista, artista e executor
de vitrais, Evaristo Iglesias, espanhol, responsável pelos trabalhos feitos em
vidros com ácido.
As técnicas usadas pela fábrica de vidros eram, sem dúvida, de
ponta para a época, tanto que os seus produtos não só se destinavam ao mercado
interno, como para o exterior, como se pode ver das várias propagandas
estampadas nos jornais de então. Tinham, ademais, todo o maquinário e fornos
para “queimar” os vidros e realizar as curvaturas necessárias, abrigados nos
prédios construídos na década de 1930, na Rua do Parque n.º 437 e 447,
respectivamente pelos construtores: Arthur Fencelau e Machiavello e Rubio, num
total de 132,25 e 378,40 m2, existentes até hoje (2008). Neste mesmo tempo, os
sócios Miguel Genta e Helmuth Schmidt Filho adquiriram uma chácara nos fundos
da Rua do Parque, na Avenida Tamandaré (n.º 464), onde construíram suas
residências, com ligação direta com a fábrica de vidros, para que pudessem
controlar de cima os negócios.
Da Santa Casa de Porto Alegre
(pelo artista Max Dobmeier - 1941)
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Além disso, as peças que ainda existem e das quais se conseguiu
apurar feitas pela Casa Genta, dispensam qualquer comentário acerca do trabalho
desempenhado, pois demonstram tratar-se de verdadeiras obras de arte. Podem ser
vistas ainda, por exemplo, na Santa Casa de Porto Alegre (na capela e na
entrada da administração), nas igrejas de Santa Terezinha, no Bairro Bom Fim;
da Santíssima Trindade (episcopal), no centro de Porto Alegre; na matriz de São
Pedro (catedral de pedra) de Gramado, na Matriz de São Roque, na Quarta
Colônia, em alguns prédios públicos em Porto Alegre, sem esquecer dos vidros
existentes até hoje, há pouco restaurados, no Palácio do Comércio de Porto
Alegre, desenhos feitos a ácido.
Com o avançar das décadas, a empresa foi se modernizando, sendo
que a partir de 1950 com o número crescente de automóveis, deu-se início à
produção de vidros e espelhos de carros e, mais tarde, em dezembro de 1957, no
ramo de acessórios e autopeças para veículos, sem falar nos demais segmentos
que também acompanhou, como a feitura de vidros para os ônibus. Tal era o
avanço e o crescimento da Casa Genta que, em meados de 1960/1970, passou a
contar com filiais no interior do Estado, em Ijuí, Passo Fundo e Caxias do Sul,
contando na matriz com 275 empregados.
Desenho com ácido em vidro, feito pela Casa Genta, pelo espanhol
Evaristo Iglesias,
reproduzindo desenho de Kano Motonubu, artista japonês que viveu
nos séculos XV e XVI.
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Durante este tempo, alguns novos integrantes ingressaram na
sociedade, a exemplo do Sr. Varela, vindo da Europa e que pouco tempo
permaneceu, o Sr. Ruschel, o Sr. Fernando Werres e Marcelo Pascoal Genta, filho
de Miguel. Com a morte dos fundadores, a começar por Helmuth Schmidt Filho em
1958, a Casa Genta se transformou em Sociedade Anônima, e, após com a morte de
Miguel Genta, em 1967, seus descendentes os sucederam, como a viúva de Helmuth,
Luiza Pierina Schmidt, e suas filhas e genro, Odette Luiza Schmidt Pufal,
Ivonny Schmidt Fischer e Pedro Corrêa Pufal. Seguiram, assim, na administração
até a década de 1980 quando, após a morte de Marcelo Genta, em 1984, a empresa
não mais continuou no mercado.
***
Fontes:
-
A Exposição Farroupilha. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1935.
-
Arquivo Municipal de Porto Alegre Moysés Vellinho. Livro de Registro de
Construções para o ano de 1930 – Diretoria de Obras e Viação – Prefeitura de
Porto Alegre (códice 4.2.1.2/3)
-
Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande Del Sud, 1925.
-
GENTA, Alba Mirandola. Biografia de Miguel Aníbal Genta. Porto Alegre: ed. da
autora, 1991.
-
Jornal St. Paulus Blatt, Porto Alegre, vários anos.
-
Relatos de: Evinha Fischer da Silva; Helmuth Luís Schmidt Pufal; Ivonny Schmidt
Fischer; Linda André; Maria Carmen Genta de Leão e Odette Luiza Schmidt Pufal.
-
SOVERAL, Antônio. O Rio Grande do Sul em todos seus aspectos. Porto Alegre:
Livraria do Globo, 1937.
[Nota]:
[1] Tradução: Um dos serviços mais visitados e mais admirado na
exposição do Cinqüentenário foram os trabalhos artísticos da "Casa
Genta", com os seus espelhos, gravuras em vidro para igrejas. Esta casa é
o único no seu gênero, em Porto Alegre, pertencentes a italianos, casa bem
montada e bem lançada e qualquer trabalho é realizado com a máxima qualidade de
ramo da perfeição.
Senhor Genta não é nascido na Itália, mas
italiano de Altari era o seu pai, o qual, na sua dureza Ligúria ensinou seu
filho a amar o trabalho. É por esta razão que o Sr. Genta é considerado
italiano e toma parte ativa de toda a vida das nossas colônias.
Ele nasceu em Montevidéu em 13 de Outubro de
1879 e se mudou para o Brasil depois de ter aperfeiçoado na sua arte naquela
grande metrópole. Aberto há alguns anos atrás sua fábrica com um modesto
capital de 25 contos de réis. Mas a sua capacidade, atividades e sabiamente fez
que a empresa prosperasse a fim de que se tem hoje um volume de 1:220 contos de
réis por ano.
O Laboratório de Antonio Genta localiza-se na
Rua Floresta n.º 19, sendo uma verdadeira oficina de arte. As esculturas e
ornamentos que o Sr. Genta executa são magistrais, assim como espelhos, vidros,
paralumi, lamparinas, molduras, flores, etc., que reproduzem a mais pura arte
veneziana.
Os materiais utilizados para a transformação, ou
seja, vidro, prata e ingredientes químicos, os recebem do estrangeiro, sendo os
demais de produção brasileira.
A fábrica está montada com todos os sistemas
modernos e é utilizada também como um local dedicado ao comércio. Além da
fabricação de espelhos, gravuras e ornamentos em vidro, trata de qualquer outro
trabalho de seu tipo, artístico e comercial, e reparação de objetos congêneres.
Os negócios do Sr. Genta estendem-se ao longo de todo o Estado.
A Casa Genta foi recompensada com medalha de
bronze na exposição de Chicago o que mostra a sua reputação mesmo fora das
fronteiras nacionais. Ele foi recompensado com medalha de ouro medalha na
exposição industrial de Porto Alegre e do Cinqüentenário da Imigração italiana.
Senhor Genta é puro proveito e designer
excelente, homem educado e bom cidadão. Todas as competências que concorrem
para elevar o conceito público e alargar cada vez mais o seu comércio."