sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Casa Genta - M. Genta, Schmidt & Cia

BREVE HISTÓRICO DA CASA GENTA M. GENTA, SCHMIDT & CIA
Autoria de Diego de Leão Pufal
[atualizado em 25/11/2013]

A história da Casa Genta inicia-se em 1906 em Porto Alegre/RS com o fundador Antônio Genta, uruguaio, nascido em Montevidéu em 13 de outubro de 1879 e falecido em 1943 em Porto Alegre, filho do italiano Giuseppe Genta e de Balbina Salaberry, uruguaia.
Sabe-se que em meados de 1906 Antônio casou-se com Albertina Sofia Fischer e, desde então, passou a trabalhar com vidros em seu laboratório localizado na então Rua Floresta, n.º 19, atual Avenida Cristóvão Colombo, em Porto Alegre/RS, juntamente como o irmão Miguel Aníbal Genta, nascido em Buenos Aires em 05 de julho de 1885 e o cunhado Arthur Felipe Fischer. O capital empregado no começo da fábrica de vidros foi de 25 contos de réis, passando anos depois para 220 contos de réis por ano, a demonstrar a carência de especialistas do gênero no Rio Grande do Sul, bem como o tino comercial do fundador, conforme mencionada na obra Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande Del Sud, de 1925 (p. 372):
“Antonio Genta Uno dei reparti piú visitati e piú ammirati dell´Esposizione Del Cinquantenario fu Il chioschetto artisticamente disposto della “Casa Genta”, coi suoi specchi, Le sue incisioni su vetro per chiese. Questa casa é l´única del genere in Porto Alegre, appartenente ad italiani, casa bem montata e bem avviata e nella quale viene eseguito qualunque lavoro del ramo com la massima perfezione.
Il signor Genta non é nato in Itália, ma italiano di Altari era Il padre suo, che, nella sua rudezza ligure, impartí al figlio l´amore all´Italia e al lavoro. Ed é per questo Che Il signor Genta si ritiene italiano e prende parte attiva Allá vita della nostra colonia.
Egli nacque dunque a Montevideo Il 13 Ottobre 1879 e si trasferi in Brasile dopo essersi perfezionato nella sua arte in quella grande metropoli. Apri pochi anni fa La sua fabbrica com um modesto capitale di 25 contos di reis. Ma La sua capacitá, attivitá ed avvedutezza fecero si Che l´azienda prosperasse in modo da avere al giorno d´oggi um giro d´affari sorpassante 1 220 contos di reis annualmente.
Il laboratório di Antonio Genta sito in via Floresta n. 19 é uma vera fucina d´arte. Le incisioni e adorni Che Il sig. Genta as cosi magistralmente eseguire su specchi, vetri, paralumi, lampadari, cornici, Fiori, ecc. riproducono la piú pura arte veneziana.
Le materie impiegate per la lavorazione: cioé, vetro, argento e ingredienti chimici, la maggior parte pervengono dall´estero, altri sono di produzione brasiliana.
La fabrica é montata com tutti i sistemi moderni ed é in locale apposito adibito a negozio. Oltre che alla fabbricazione di specchi, incisioni ed ornamenti su vetro, si occupa purê di qualunque altro lavoro del genere, artistico e commerciale, e alle riparazioni di ogetti congereni. Ill giro d´affari del sig. Genta si estende a tutto lo Stato.
La casa Genta fu premiata com medaglia di bronzo nell´esposizione di Chicago ció che dimostra che la sua rinomanza varca anche le frontiere. Fu purê premiata com medaglia d´oro all´esposizione industriale di Porto Alegre e a quella del Cinquantenario Italiano.
Il signor Genta é purê provetto disegnatore ed ottimo ragioniero, uomo istruito e buono cittadino. Doti tutte che concorrono ad elevarlo nel concetto pubblico e ad allagare sempre piu Il suo commercio"[1]
Arte esta que foi aprendida desde muito cedo por Antônio e Miguel, visto que o pai, Giuseppe Genta, logo após emigrar da Itália para o Uruguai, cerca de 1875/1877, já passou a exercer a profissão possivelmente apreendida em Gênova e Altari, esta última, sua cidade natal, eis que reproduzia a arte veneziana, assim como seus filhos. Foi em Montevidéu, na Calle Paissandu, n.º 148, onde teria se fixado com uma indústria de artes em vidros e espelhos, local em que certamente seus filhos aprenderam o trabalho que anos depois criou vulto na Capital Gaúcha.
Nesse ínterim, em 1913, enquanto Antônio administrava os negócios, o irmão Miguel viajava pela Europa, em busca de novas técnicas no trabalho do vidro, maquinários e artesões, onde permaneceu até 1920 ou 1921, em virtude da I Guerra Mundial.
Vitraux existente em frente à Capela de N. Sr. dos Passos, na Santa Casa de Porto Alegre.
Ainda por volta de 1912 vieram de Taquara/RS o irmão e sobrinho de Albertina Fischer (casada com Antônio Genta), Fredolino Fischer e Helmuth Schmidt Filho, para trabalhar com o cunhado e tio, além do irmão Arthur Fischer, que até então era sócio ou trabalhava com o cunhado Antônio Genta. Mais tarde, em 1923, com o retorno de Miguel da Europa, a empresa tomou maior porte, tendo a ela se juntado Helmuth Schmidt Filho, quando passou a girar sobre o nome empresarial de Casa Genta - M. Genta, Schmidt & Cia, com sede primeiramente na Rua dos Andradas, junto ao Jornal Correio do Povo e, mais tarde, na Rua do Parque, n.º 437, sendo que nesta época Fredolino Fischer se retirou da sociedade, seguindo o irmão Arthur Felippe Fischer, fundando outra empresa no ramo.
Detalhe do vitraux acima que leva a assinatura de Max Dobmeier e que, em 1941, teria sido restaurado por Judith Fortes.
No decorrer da “segunda fase” da empresa, tendo em vista os belos trabalhos em vidros, vitrauex e vitrines realizados, com força de artesões franceses, alemães, espanhóis, dentre outros, a Casa Genta foi premiada com medalha de bronze na exposição de Chicago, medalha de ouro, em 1925, pelos Cinqüenta anos da Colonização Italiana no Estado, bem como na exposição de 1935 em Porto Alegre, em comemoração ao centenário da Revolução Farroupilha. Esta fase serviu de base para o escritor Antônio Soveral, ao editar em 1937 o livro “O Rio Grande do Sul em todos seus aspectos”, editado pela Livraria do Globo, que à fl. 31, referiu:
“CASA GENTA
A rua do Parque n.º 437, em um dos pontos mais comerciais da capital dos pontos mais comerciais da capital rio-grandense, acha-se estabelecido o nosso amigo, Sr. Miguel Genta, o qual, por seu prestígio mercantil e social, firmou-se, desde muito, em uma situação próspera e invejável.
A “Casa Genta”, que negoceia com o ramo de vidros, vitrinas e “vitreaux”, tornou-se uma das mais acreditadas no gênero, não só pela honradez de suas transações, como pela perfeição da indústria que explora.
“Vitreuax” para igrejas que são ali fabricados, com um requinte artístico, que incita ao misticismo e exerce uma saudável pressão sobre a estese religiosa. Daí, a grande procura do artigo, nesta e em várias praças.
Na fabricação de vidros e vitrinas, igualmente, o esmero não é menor, sendo a produção em larga escala.
Cidadão de fino trato social, o Sr. Miguel Genta possue o condão de transformar os freguezes em amigos, razão pela qual solidificou, de modo apreciável, a sua prosperidade e o seu conceito comercial.
É uma das firmas mais conhecidas de nossa praça, tendo radicado o seu prestígio através do interior do Rio-Grande-do-Sul.
Desnecessário se torna recomendá-la, entretanto, nos é grato fazermos propaganda da “Casa Genta”, onde qualquer pessoa, por mais exigente que seja, sentir-se-á satisfeita, pelo preço e perfeição dos artigos.
Tendo principiado como operário no ano de 1923, por um desses golpes de audácia, tão férteis no espírito dos afeitos ao trabalho profícuo e nobilitante, fundou a firma, conhecida sob a razão social de M. Genta & Schmidt, a qual, em menos de 15 anos de existência, conquistou, de modo absoluto, os mercados nacionais.
Do modesto capital primitivo, apenas 25 contos, pode a faina ininterrupta estabelecer o capital atual de mais de 1.000 contos, prova cabal de uma prosperidade indiscutível.
Facto digno de nota é o tratamento dispensado, ali, ao elemento proletário, do qual, se é verdade que depende, diretamente, a vitalidade da casa, não é menos verdade ser ele muito bem pago, além de estar no pleno gozo das garantias, que lhe são asseguradas pela nossa legislação trabalhista.
O Sr. Miguel Genta, cuja fotografia acima se vê, é cidadão brasileiro, em cujo lar honrado reina, felizmente, a fartura, em meio de um ambiente encantadoramente familiar.
Esposo amantíssimo e pai dedicado, revê-se, com orgulho, nos filhos, os quais, tirados, já, os preparatórios, no acreditado Ginásio Anchieta, apresentam-se para seguir, nas veredas sociais, o exemplo de atividade e honradez, que lhes foi dado por seu digno pai.”

Vitrais feitos pela Casa Genta, pelo artista Max Dobmeier.
Encontram-se na Santa Casa de Porto Alegre (administração)
Inicialmente a curvatura dos vidros era feita pela própria Casa Genta, cujas chapas (de vidro) provinham da Bélgica e Inglaterra (da fábrica Bilkenston Brother), mais tarde de São Paulo, da empresa de Vicente Cracasso. Chegavam por mês vários navios da Europa carregados com chapas de vidros, todos destinados à Casa Genta, oriundos, como referido, principalmente da Inglaterra e Bélgica, cujo “desembarque” era conferido diretamente por Miguel Genta no porto da capital. Dentre os artistas e artífices que compunham o corpo técnico da empresa, conseguiu-se resgatar alguns nomes, dentre eles: Max Dobmeier, alemão, especialista em pinturas de vitrauex nas décadas de 1940/1950, Lorenz Heilmaier, alemão, também especialista em vitrauex, década de 1950, Hugvet, espanhol, desenhista e projetista, durante as décadas de 1940/1980, François Ferdinand Urban, desenhista, artista e executor de vitrais, Evaristo Iglesias, espanhol, responsável pelos trabalhos feitos em vidros com ácido.
As técnicas usadas pela fábrica de vidros eram, sem dúvida, de ponta para a época, tanto que os seus produtos não só se destinavam ao mercado interno, como para o exterior, como se pode ver das várias propagandas estampadas nos jornais de então. Tinham, ademais, todo o maquinário e fornos para “queimar” os vidros e realizar as curvaturas necessárias, abrigados nos prédios construídos na década de 1930, na Rua do Parque n.º 437 e 447, respectivamente pelos construtores: Arthur Fencelau e Machiavello e Rubio, num total de 132,25 e 378,40 m2, existentes até hoje (2008). Neste mesmo tempo, os sócios Miguel Genta e Helmuth Schmidt Filho adquiriram uma chácara nos fundos da Rua do Parque, na Avenida Tamandaré (n.º 464), onde construíram suas residências, com ligação direta com a fábrica de vidros, para que pudessem controlar de cima os negócios.
Da Santa Casa de Porto Alegre
(pelo artista Max Dobmeier - 1941)
Além disso, as peças que ainda existem e das quais se conseguiu apurar feitas pela Casa Genta, dispensam qualquer comentário acerca do trabalho desempenhado, pois demonstram tratar-se de verdadeiras obras de arte. Podem ser vistas ainda, por exemplo, na Santa Casa de Porto Alegre (na capela e na entrada da administração), nas igrejas de Santa Terezinha, no Bairro Bom Fim; da Santíssima Trindade (episcopal), no centro de Porto Alegre; na matriz de São Pedro (catedral de pedra) de Gramado, na Matriz de São Roque, na Quarta Colônia, em alguns prédios públicos em Porto Alegre, sem esquecer dos vidros existentes até hoje, há pouco restaurados, no Palácio do Comércio de Porto Alegre, desenhos feitos a ácido.
Com o avançar das décadas, a empresa foi se modernizando, sendo que a partir de 1950 com o número crescente de automóveis, deu-se início à produção de vidros e espelhos de carros e, mais tarde, em dezembro de 1957, no ramo de acessórios e autopeças para veículos, sem falar nos demais segmentos que também acompanhou, como a feitura de vidros para os ônibus. Tal era o avanço e o crescimento da Casa Genta que, em meados de 1960/1970, passou a contar com filiais no interior do Estado, em Ijuí, Passo Fundo e Caxias do Sul, contando na matriz com 275 empregados.
Desenho com ácido em vidro, feito pela Casa Genta, pelo espanhol Evaristo Iglesias,
reproduzindo desenho de Kano Motonubu, artista japonês que viveu nos séculos XV e XVI.
Durante este tempo, alguns novos integrantes ingressaram na sociedade, a exemplo do Sr. Varela, vindo da Europa e que pouco tempo permaneceu, o Sr. Ruschel, o Sr. Fernando Werres e Marcelo Pascoal Genta, filho de Miguel. Com a morte dos fundadores, a começar por Helmuth Schmidt Filho em 1958, a Casa Genta se transformou em Sociedade Anônima, e, após com a morte de Miguel Genta, em 1967, seus descendentes os sucederam, como a viúva de Helmuth, Luiza Pierina Schmidt, e suas filhas e genro, Odette Luiza Schmidt Pufal, Ivonny Schmidt Fischer e Pedro Corrêa Pufal. Seguiram, assim, na administração até a década de 1980 quando, após a morte de Marcelo Genta, em 1984, a empresa não mais continuou no mercado.
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Fontes:
- A Exposição Farroupilha. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1935.
- Arquivo Municipal de Porto Alegre Moysés Vellinho. Livro de Registro de Construções para o ano de 1930 – Diretoria de Obras e Viação – Prefeitura de Porto Alegre (códice 4.2.1.2/3)
- Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande Del Sud, 1925.
- GENTA, Alba Mirandola. Biografia de Miguel Aníbal Genta. Porto Alegre: ed. da autora, 1991.
- Jornal St. Paulus Blatt, Porto Alegre, vários anos.
- Relatos de: Evinha Fischer da Silva; Helmuth Luís Schmidt Pufal; Ivonny Schmidt Fischer; Linda André; Maria Carmen Genta de Leão e Odette Luiza Schmidt Pufal.
- SOVERAL, Antônio. O Rio Grande do Sul em todos seus aspectos. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1937.

[Nota]:
[1] Tradução: Um dos serviços mais visitados e mais admirado na exposição do Cinqüentenário foram os trabalhos artísticos da "Casa Genta", com os seus espelhos, gravuras em vidro para igrejas. Esta casa é o único no seu gênero, em Porto Alegre, pertencentes a italianos, casa bem montada e bem lançada e qualquer trabalho é realizado com a máxima qualidade de ramo da perfeição.
Senhor Genta não é nascido na Itália, mas italiano de Altari era o seu pai, o qual, na sua dureza Ligúria ensinou seu filho a amar o trabalho. É por esta razão que o Sr. Genta é considerado italiano e toma parte ativa de toda a vida das nossas colônias.
Ele nasceu em Montevidéu em 13 de Outubro de 1879 e se mudou para o Brasil depois de ter aperfeiçoado na sua arte naquela grande metrópole. Aberto há alguns anos atrás sua fábrica com um modesto capital de 25 contos de réis. Mas a sua capacidade, atividades e sabiamente fez que a empresa prosperasse a fim de que se tem hoje um volume de 1:220 contos de réis por ano.
O Laboratório de Antonio Genta localiza-se na Rua Floresta n.º 19, sendo uma verdadeira oficina de arte. As esculturas e ornamentos que o Sr. Genta executa são magistrais, assim como espelhos, vidros, paralumi, lamparinas, molduras, flores, etc., que reproduzem a mais pura arte veneziana.
Os materiais utilizados para a transformação, ou seja, vidro, prata e ingredientes químicos, os recebem do estrangeiro, sendo os demais de produção brasileira.
A fábrica está montada com todos os sistemas modernos e é utilizada também como um local dedicado ao comércio. Além da fabricação de espelhos, gravuras e ornamentos em vidro, trata de qualquer outro trabalho de seu tipo, artístico e comercial, e reparação de objetos congêneres. Os negócios do Sr. Genta estendem-se ao longo de todo o Estado.
A Casa Genta foi recompensada com medalha de bronze na exposição de Chicago o que mostra a sua reputação mesmo fora das fronteiras nacionais. Ele foi recompensado com medalha de ouro medalha na exposição industrial de Porto Alegre e do Cinqüentenário da Imigração italiana.

Senhor Genta é puro proveito e designer excelente, homem educado e bom cidadão. Todas as competências que concorrem para elevar o conceito público e alargar cada vez mais o seu comércio."