quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A família "Câmara" (da Ilha da Madeira ao Rio Grande)


A Família
“Câmara”
[da Ilha da Madeira ao Rio Grande]
Autoria de: Diego de Leão Pufal
[acréscimos, dúvidas e correções escreva para diegopufal@gmail.com]
[Esta publicação pode ser utilizada pelo(a) interessado(a), desde que citada a fonte: PUFAL, Diego de Leão. A família Câmarain blog Antigualhas, histórias e genealogia, disponível em http://pufal.blogspot.com.br/] 
[atualizado em 30/01/2014]
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No post anterior tratou-se da ascendência e descendência de Francisco Gago da Câmara, açoriano do início do século XVIII da ilha de São Miguel, estabelecido no litoral paulista – Cananéia – cujos filhos e netos foram para o Rio Grande do Sul.
Francisco herdou o sobrenome “Câmara” do seu antepassado João Gonçalves Zarco, seu 8ª avô, que foi o primeiro que passou a usar o apelido ainda no século XV na Ilha da Madeira.
Aqui apenas veicular-se-á uma parte da descendência de João Gonçalves Zarco, por ser muito vasta e ter se espalhado por muitas ilhas dos Açores e depois ganhado o mundo.
Segundo D. Henrique Henriques de Noronha, em seu Nobiliário da Ilha da Madeira de 1700 (tomo 1º, p. 108), João Gonçalves Zarco
foi um muito honrado homem natural d´a Villa de Mattosinhos, segundo a opinião d´o Padre Mestre Fr. João de Deus, melhor investigada; foi muito sicente n´a Arte d´a navegação, pelo que o Infante D. Henrique, filho d´El Rei D. João 1.º, o tomou por cavaleiro de sua Casa, e se serviu d´elle para os seus descobrimentos; foi o Primeiro que achou a Ilha d´a Madeira, d´aparte d´a qual, a que chamão d´o Funchal (nome d´a Cidade) o fez Capitão Governador e Donatario, por concessão que para isso tinha de seu sobrinho El Rei D. Affonço 5.º, cuja mercê lhe foi feita em o 1.º de Novembro de 1450 annos. Morreu provecto de annos e jaz enterrado na Egrega de Nossa Senhora d´a Conceição que hoje é Convento de Freiras de Sancta Clara, a qual elle fez para seu enterro.
Já Antônio Ornelas Mendes e Jorge Forjaz, nas Genealogias da Ilha Terceira, vol. II, pp. 699/700, dizem a respeito de João Gonçalves Zarco que foi
Cavaleiro da Casa do infante D. Henrique, ao serviço do qual empreendeu diversas viagens marítimas ao longo da costa africana. Esteve em Tânger e Ceuta, onde foi armado cavaleiro. Foi numa das viagens, em julho de 1419, que Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira descobriram a Madeira, ou melhora, reconheceram-na, uma vez que hoje se sabe que o arquipélago era já conhecido dos portugueses em época anterior a 1418. Pouco tempo depois, a partir de 1425, Zarco dá início ao povoamento do Funchal, aonde se estabeleceu com sua mulher. Embora ocupando a sua capitania logo no início do 2º quartel do séc. XV, a cara de doação da mesma só lhe foi feita a 1.11.1450 (...). Em 4.7.1460, estando em Santarém, D. Afonso V concedeu-lhe carta de brasão com as seguintes armas: de negro, com uma torre de prata, assente num monte de verde, sustida por dois lobos rampantes, de ouro e por timbre um dos lobos, passante.
De acordo com D. Henrique Henriques de Noronha, ainda, o apelido Câmara de Lobos derivou de uma gruta de lobos marinhos que João Gonçalves Zarco achou quando saltou em terra na ilha da Madeira, o que também seguido por Felgueiras Gayo no Nobiliário de Famílias de Portugal, vol. VIII, p. 81.
João Gonçalves Zarco, conforme Jorge Forjaz e Antônio Ornelas Mendes (op. cit., p. 699) nasceu em meados de 1390 e faleceu, provavelmente em 1467, e foi filho de Gonçalo Esteves Zarco que viveu no tempo de D. Afonso IV, D. Pedro I e D. Fernando, e neto de Estevão Pires Zarco.
Gonçalves Zarco foi casado com Constança Rodrigues, falecida no Funchal, ilha da Madeira a 22.4.1484, a qual é dada como filha de Rodrigo Annes de Sá (ou Rodrigo Aires de Sá, embaixador de Portugal em Roma) e Cecília Colona (da família romana Colona) por D. Henrique Henriques de Noronha, cuja filiação, porém, é “absolutamente fantasiosa como ficou claramente demonstrado por Luís de Mello Vaz de São Payo em Subsídios para uma Biografia de Pedro Álvares Cabral”, como anotam Forjaz & Mendes (Op. cit., vol. II, p. 700).
Houve do casamento de João Gonçalves Zarco e Constança Rodrigues sete filhos:
1.      João Gonçalves da Câmara casado com D. Isabel Homem e, após, com D. Mécia de Noronha. Com geração.
2.      D. Helena Gonçalves da Câmara casada com Martim Mendes de Vasconcelos na ilha da Madeira. Com geração.
3.      Rui Gonçalves da Câmara – antepassado de Francisco Gago da Câmara, tratado no post anterior.
4.      Garcia Rodrigues da Câmara casado com Violante de Freitas, com geração na Ilha da Madeira.
5.      Isabel Gonçalves da Câmara casada com Diogo Afonso de Aguiar.
6.      Beatriz Gonçalves da Câmara casada com Diogo Cabral, com descendência.
7.      Catarina Gonçalves da Câmara casada com Garcia Homem de Souza
Desses, destaca-se a filha Catarina Gonçalves da Câmara, cuja descendência se passa a descrever:
1. Catarina Gonçalves da Câmara foi filha de João Gonçalves Zarco e Constança Rodrigues, adotando o sobrenome “Câmara” em razão das armas recebidas por seu pai pelo rei D. Afonso V, assim como seus irmãos. Catarina casou-se com Garcia Homem de Souza, navegador de El Rei que teria, em 1445, chegado na Madeira, quando teria ali se casado com Catarina Gonçalves da Câmara. De acordo com Forjaz & Mendes (Op. cit., vol. V, p. 130) Garcia foi filho de João Annes Homem e Beatriz Pereira, neto paterno de Pedro da Costa Homem, senhor da Lageosa (este, por sua vez, filho de Isabel Nunes Homem, senhora de Lageosa, e de Pedro da Costa, que serviu D. Fernando e D. João I, neto de Nuno Gonçalves Homem, alcaide-mor de Trancoso e senhor da Lageosa, bisneto de Gonçalo Pires Homem, senhor de Lageosa, trineto de D. Pedro Homem, cavaleiro, senhor da Lageosa e de D. Mor Martins de Brufe, tetraneto de Martim Pires de Froião, cavaleiro, pentaneto de D. Pedro Pires Homem – o primeiro a usar o apelido Homem, abandonando o sobrenome paterno Pereira. Garcia Homem de Souza e Catarina Gonçalves da Câmara geraram dois filhos: Diogo Homem de Souza que faleceu solteiro sem geração e:
2-1 Leonor Homem de Souza, nascida possivelmente na ilha da Madeira, onde se casou (I) com Duarte Pestana de Brito, fidalgo Escudeiro da Casa de El Rei de quem descendem os Pestanas Vellosas, como refere D. Henrique Henriques de Noronha (Op. cit., III, p. 444), e, após (II) com Rui Dias de Aguiar. Leonor e Duarte foram pais de 7 filhos: Estevão Pestana, falecido solteiro em 1510, sem geração; Beatriz Pestana, falecida solteira em 14/9/1510; Isabel Rodrigues, solteira; uma filha casada com Rodrigo Affonso, Mécia Pestana, Inês Pestana e:
3-1 Jorge Pestana da Câmara, o qual, segundo D. Henrique Henriques de Noronha (Op. Cit., III, p. 445), “foi accrescentado n´o foro de fidalgo Cavalleiro no anno de 1503”. Casou com Beatriz de Góes, filha de Lançarote Teixeira (que foi grande cavaleiro, muito rico e instituiu o Morgado da Pena da Águia em seu filho primogênito) e Brites de Góes, neta paterna do capitão Tristão Vaz (1º capitão da jurisdição de Machico e companheiro de João Gonçalves Zarco no descobrimento desta ilha) e de D. Branca Teixeira. Jorge e Beatriz foram pais de:
4-1 Gabriel Pestana da Câmara, n. ilha da Madeira, casando-se em 1520 com Cecília de Paiva, n. cerca de 1500 e fal. a 30/05/1554 na Ilha da Madeira, “e jaz com seu marido em S.ta Clara na Capella do seu enterro delle, que hoje serve de Sachristia” (Op. cit., p. 445), filha de Luiz Doria Vellosa, o velho, e Ana de Paiva. Gabriel e Cecília foram pais de: Jorge Pestana da Câmara, André Pestana, Lançarote Teixeira, Miguel Pestana, Ana de Paiva da Câmara, Felipa de Brito da Câmara e de:
5-1 João Pestana da Câmara, nasceu pelos idos de 1526 possivelmente na Ilha da Madeira. Casou no Porto Santo com Ana Ferreira, filha de João Rodrigues Callaça e Ana Ferreira. Houve desse casamento:
6-1 Gabriel Pestana de Vellosa, que se chamou de Vellosa por herdar o morgado dos Vellosas. Casou no Porto Santo a 10/07/1573 com Grácia de Castro Calaça, filha de Francisco Gil de Castro e Joana de Paiva. Pais de: João Pestana de Vellosa, Luiz Pestana de Brito, Jorge Pestana de Vellosa, Gabriel Pestana de Vellosa, Miguel Pestana de Vellosa, Duarte Pestana de Vellosa, Guimar Pestana, Ana Ferreira, Cecília de Paiva e:
7-1 Maria das Neves de Vellosa, n. cerca de 1575 talvez no Porto Santo, ilha da Madeira. Casou com Antônio Ruas Lomelino, ali nascido, filho de Antônio Ruas e Madalena Lomelino – descendente do genovês Urbano Lomelino, chegado em 1528 na Ilha da Madeira. Pais de:
8-1 Antônio Ruas Lomelino, casado na ilha da Madeira com Mariana Moniz, filha de Martin de Castro e de Catarina de Góes. Pais de:
9-1 João Pestana de Veloso, nascido cerca de 1675 na ilha da Madeira, casando-se a 10/11/1697 no Porto Santo, na mesma ilha, com Antônia Moniz ou Antônia de Vasconcelos, n. na freguesia de Santa Cruz, ilha da Madeira, filha de Manuel Homem da Costa e Isabel Moniz de Menezes, casados em 1670 em Santa Cruz, ilha da Madeira, neta paterna de Pedro Jorge de Arvelos e Isabel de Souza e, materna, de Jerônimo de Ornelas e Abreu e Bernarda de Menezes. O casal João e Antônia geraram 3 filhos, ao menos: João Moniz, Manuel de Vasconcelos e:
10-1 Jerônimo de Ornelas Menezes e Vasconcelos, o conhecido Jerônimo de Ornelas tido como o primeiro sesmeiro de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e antepassado de boa parte da população rio-grandense. Jerônimo nasceu em 1690 no Funchal, ilha da Madeira e faleceu a 27/09/1771 em Triunfo/RS, Brasil. Sabe-se que no ano de 1721 Jerônimo já estava em Guaratinguetá/SP, onde foi padrinho de batismo de algumas crianças, ali se casando em 1723 com Lucrécia Leme Barbosa, n. 1703 em Guaratinguetá/SP e fal. 02/10/1800 em Triunfo/RS, filha de Baltazar Corrêa Moreira e Fabiana da Costa Rangel, ambos com ascendência conhecida. 
Vista do Funchal, onde nasceu Jerônimo de Ornelas
[disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Funchal]
Jerônimo e Lucrécia saíram de Guaringuetá, descendo possivelmente pelo litoral paulista, paranaense e catarinense, permanecendo por algum tempo em Laguna/SC até se fixarem nos arredores de Viamão/RS – o que viria a ser Porto Alegre, mais precisamente no Morro da Senhora Sant´Ana, cuja carta de sesmaria lhe foi outorgada em 1740. 
O casal gerou 10 filhos que acabaram por povoar toda a região do entorno de Porto Alegre: Triunfo, Camaquã, Guaíba, Tapes, Viamão, Taquari, General Câmara, Santo Amaro, entre outras. São eles:
11-1 Fabiana de Ornelas ou também Fabiana de Menezes, bat. 24/04/1724, Guaratinguetá/SP e fal. 02/03/1765, Triunfo/RS. Casou-se com José Leite de Oliveira, com quem teve nove filhos e dos quais descendem as famílias: Leite de Oliveira; Leite de Oliveira Salgado, afora outras.
11-2 Rita de Menezes, n. cidade de Cunha/SP e fal. 07/02/1801, Santo Amaro/RS. Casou-se com o capitão Francisco Xavier de Azambuja, paulista, com quem teve 12 filhos e dos quais descendem os: Azambuja; Alves Guimarães; Centeno; Alencastro; Azambuja Cidade e outros.
11-3 Antônio da Costa Barbosa, bat. 09/10/1727, Guaratinguetá/SP e fal. 18/08/1814, Triunfo/RS. Casou-se com Manuel Gonçalves Meireles, português, com quem teve 12 filhos, dos quais descendem: Gonçalves da Silva, inclusive Bento Gonçalves da Silva, farroupilha; Gonçalves Meirelles, Ferreira Leitão, Ribeiro da Cunha, Faria Lobato e outros.
11-4 Maria Leme Barbosa, n. cerca de 1728 em Laguna/SC e fal. 23/05/1792, Taquari. Casou em dezembro de 1747 em Viamão/RS com o tenente Francisco da Silva, português, com quem teve 12 filhos e dos quais descendem os Barbosa da Silva; Silva Barbosa e outros.
11-5 Manuel Dorneles, n. cerca de 1735, falecendo a 22/01/1757 no Rio dos Sinos, no RS, solteiro e, ao que parece, sem descendentes.
11-6 Gertrudes Barbosa de Menezes, n. 1738, Viamão e fal. 16/07/1820, Triunfo/RS, casando-se a 07/02/1755 com Luiz Vicente Pacheco de Miranda, português, com quem teve 13 filhos e dos quais descendem: Martins dos Reis; Pacheco de Miranda, Azambuja; Abreu, Menezes e outros.
11-7 Clara Barbosa de Menezes, n. 1741, Viamão, casando-se com José Fernandes Petim, português, com quem teve 10 filhos e dos quais descendem: os Petim, Barbosa Menezes; Vieira de Carvalho, Pires da Silveira Casado e outros.
11-8 Teresa Barbosa de Menezes, n. 1742, Viamão e fal. 20/10/1810, Porto Alegre, casando-se a 25/09/1758 em Triunfo com Agostinho Gomes Jardim, natural do Funchal, ilha da Madeira, com quem teve 12 filhos e dos quais descendem os Gomes Jardim; Jardim de Menezes; Meireles e outros.
11-9 Brígida de Ornelas de Menezes, n. cerca de 1745 em Viamão e fal. 04/08/1827 em Triunfo, onde se casou a 19/09/1763 com Jacinto Roque Pereira Guimarães, português, com quem teve 11 filhos e dos quais descendem os Pereira Guimarães; Pereira do Lago; Barbosa; Santos Lima e tantas outras famílias.
11-10 José Raimundo Dorneles, n. Viamão e provavelmente falecido solteiro.

LIVROS CONSULTADOS:
- FELGUEIRAS GAYO. Nobiliário de Famílias de Portugal. Braga: Tip. Augusto Costa & C.ª Lim.da, 1938, vol, VIII.
- FELIZARDO, Jorge G. O Sesmeiro do Morro de Sant´Ana. Separata da Revista Genealógica Brasileira. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1940.
- MENDES, Antônio Ornelas & FORJAZ, Jorge. Genealogias da Ilha Terceira. Lisboa: DisLivro Histórica, 2007, volumes  II e V.
- NORONHA, Henrique Henriques de. Nobiliário da Ilha da Madeira. Tomos I, II e III.

6 comentários:

  1. Sou Câmara também, mas a chegada dos ancestrais se deu pelo nordeste, porém todos somos parentes no final de contas! Saudações Cãmaras sulistas! Martial Câmara

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    1. Oi, meu nome é Lucas Câmara bispo Almeida. Minha família por parte de câmara existe poucas pessos, sou de itamaraju ba, mãe marizete Souza Câmara, avó eneida Souza Câmara, bisavó Cassionilia souza câmara, trisavó alexandrina Maria Câmara. 73 988524383

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  2. Meus bisavós maternos eram primos e do tronco Câmara, residentes na cidade de São José da Terra Firme, em SC. A história de João Gonçalves Zarco, o primeiro Câmara, está no livro de familia.

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  3. Sou câmara também, meu avô era de Vacaria Rio grande do Sul

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  4. Sou Daniel Câmara, bisneto de Manoel Jacinto da Câmara. Açoriano da Ilha de São Miguel, Concelho de Povoação.

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  5. Meu trisavó era Ernesto da Camara da Ilha da Madeira, famoso por seus claros cabelos e olhos azuis meu bisavô filho dele Eduardo.

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