domingo, 29 de março de 2009

Poesias de Mário Brasil

Distante


Dois mezes, só dois mezes e, no entanto,
Um século parece-me passado
Que do lar me auzentei, do lar amado,
Onde tudo sorria! Mas o pranto

Hoje me innunda a face, chóro e quanto
Soffro! Saudades tenho do sagrado
Ninho, onde eu era simples bafejado
Pelo affecto paterno e sacrosanto.

Saudades tambem tenho dos leaes
Amigos que venero, mas jamais
Esquecerei a quem, do inno do peito,

Consagro puro e verdadeiro amor,
A quem me tem o coração sujeito,
Virgem das virgens, tentadora flôr!


Porto Alegre, 27-4-1910.

***

Revendo o Passado

Si ainda agora revejo do passado
As brumas, mil figuras me apparecem
Que se agglomeram, multiplicam, crescem ...
Quanta gente, meu Deus, ali pasmado

Eu noto! E desse grupo, destacado,
Vejo um ser. É uma mulher. Não me esquecem
Suas labias. Quão ingrata foi! Perecem
Minhas chimeras e illusões. Culpado

Não sou. Amo-a ainda e o dever me obriga
A esquecel-a Contraste! Sei que imiga
Não é do meu amor, quer-me ainda agora,

E devo abandonal-a, pois sincera
Não foi, e assim de mim mais nada espera
Porque amor não se pede e nem se implóra.

Porto Alegre, 12-6-1910.