terça-feira, 10 de março de 2009

Poesias de Mário Brasil

Um Enforcado
(Soneto sem verbos)

Noite serena, tentadora e bella,
Mudo silencio na deserta rua,
Raios de prata da fagueira lua
Sobre um espectro livido à janella.

Sombras, entanto, no interior na cellam
Livros esparsos sobre a mesa sima,
Um pobre catre, realidade crua,
E ainda um coto misero de vela.

E nada mais naquelle quarto umbroso ...
Um momento depois ... quadro horroroso,
Scena terrivel, tragica guarida!

Pois o corpo daquelle desgraçado
Rigido, inerte, hirto, enregelado,
Do tecto eil-o suspenso e já sem vida ...!
Porto Alegre, 3-4-1910.