Alemães no RS: os Fischer (2ª parte)
autoria de Diego de Leão Pufal
autoria de Diego de Leão Pufal
Conforme referido na postagem anterior sobre os Fischer, um dos ramos da família, de "Wilhelm", estabeleceu-se em Santa Maria da Boca do Monte. Nesta cidade, Guilherme teria sido proprietário da primeira botica, denominada: Pharmacia e Drogaria Fischer, localizada na Rua do Acampamento. O historiador Romeu Beltrão em sua obra (Cronologia Histórica de Santa Maria e do Extinto Município de São Martinho - 1787-1930. Canoas: Lasalle, 1979, 2. ed., pp. 221/222) contou mais detalhes e "estórias" de nosso personagem:
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"Maio, 07 ou 27 - Guilherme Fischer obtém da Câmara de Vereadores licença para abrir farmácia na esquina sudoeste da Acampamento com a Pacífica, depois rua do Comércio e hoje Dr. Bozano. Passará à história santa-mariense com o nome de `Farmácia do Fischer` e funcionará no mesmo local até 1915.
Fischer apresentou à Camara uma licença da Diretoria da Saúde Pública de Porto Alegre para poder negociar com produtos farmacêuticos. Estava estabelecido no local com selaria e correaria e resolveu também vender remédios. Sua farmácia e drogaria tinha de tudo, até remédios ... Certo dia, alguém foi à sua farmácia em procura de anzóis de vidro, para dar um trote no Fischer. Este não se perturbou. Foi a uma prateleira e voltou com uma caixa de anzóis de vidro de vários tamanhos ...
Era muito espirituoso e tinha resposta pronta para tudo. Tinha fama de careiro e, quando alguém reclamava, costumava dizer: - O que é bom é caro. Remédio legítimo custa mais caro do que o falsificado. Se prefere o mais barato vá comprar no Felipe.
Felipe Borgna era seu concorrente e os dois boticários da vila andavam sempre de ponta.
Também aviava receitas, mas a seu modo, impingindo qualquer sucedâneo, quando não possuia o ingrediente pedido só para não deixar de vender.
Não acreditava em homeopatia e atendia a qualquer pedido de remédios homeopáticos, enchendo os vidrinhos na mesma torneira do depósito d'água, porque, para ele, `homeopatia era simpatia`.
Vendia até água benta e água milagrosa da Fonte de Santo Antão, também tirados do mesmo depósito.
Tirava dentes, vendia cangalhas, livros e revistas, tendo sido, segundo creio, o primeiro livreiro que teve Santa Maria. Também vendia ovos frescos e manteiga ...
Deixou o `velho Fischer`vasto anedotário, como se poderá ler em DAUDT FILHO, Memórias, 3 edição, pág. 261 e seguintes.
Costumava fazer viagens freqüentes a Porto Alegre, conduzindo carretas e cargueiros constituídos por mulas e cavalos. Levava produtos locais, aceitava encomendas de comerciantes e de lá trazia mercadoria para si e outros negociantes. Foi um precursor do transporte de cargas entre a vila e a capital.
Era protestante, chegando a ocupar a presidência da comunidade luterana local, mas não deixava de emprestar colaboração às obras católicas, tendo sido até presidente da comissão construtora da Capela ou Império do Divino, segunda matriz que teve S. Maria, localizada à esquina sudoeste da avenida Rio Branco e rua dos Andradas de hoje. Isso aconteceu no ano em que foi festeiro ou ìmperador da Festa do Divino. Foi assim, também, um precursor do ecumenismo.
Morreu quando em viagem de recreio à Alemanha. Então sua farmácia e `empório` passou à propriedade de sua filha Concórdia, casada com o jornalista Garibaldi Felizola, pouco durando após a morte do inefável boticário, sobre cuja vida se poderia escrever um vidro."
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Como se vê de uma nota fiscal passada pelo estabelecimento comercial de Guilherme a Frederico Schmidt, em 1881, Fischer efetivamente aviava receitas, além de vender vinho do porto - ou para tratamento médico ou como produto de seu "empório" -, dentre outras mercadorias. Como curiosidade, sua farmácia estava: "Aberta de dia e de noite a qualquer hora", onde "Aprompta-se receitas com aceio, exactidão e por modico preço".