A mãe da mãe de
minha mãe ...: uma genealogia matrilinear
Autoria de
Diego de Leão Pufal
[dúvidas, acréscimos e correções,
escreva para
diegopufal@gmail.com]
[Esta publicação
pode ser utilizada pelo(a) interessado(a), desde que citada a fonte: PUFAL,
Diego de Leão. A mãe da mãe de minha mãe ...: uma genealogia matrilinear,
in blog Antigualhas, histórias e genealogia, disponível em http://pufal.blogspot.com.br/]
[publicado em 27/12/2017]
***
De acordo com Aurélio Buarque de
Holanda Ferreira[1]
o vocábulo matrilinear é “relativo aos parentes por linha
exclusivamente feminina” ou “relativo
a descendência por linha materna”. Assim, a linha matrilinear refere-se à
pesquisa da linhagem da família da mãe da pessoa investigada, buscando-se
sempre o ramo da mãe da mãe (avó), da mãe da avó (bisavó) e assim por diante.
Antes dos testes de DNA, a genealogia
matrilinear era tida como a mais acertada e genuína, justamente porque a
maternidade não se presume, o mesmo não se podendo dizer com relação à
paternidade. Nesse sentido é corrente a existência de filhos fora do casamento,
por exemplo, cujo verdadeiro pai somente foi (ou é) revelado anos após o
nascimento da criança, quando o foi (ou é), ou cujo pai é desconhecido, afora
outras variadas situações. Por outro lado, ainda que em algumas pesquisas
realizadas o nome da mãe apareça como “incógnito”, mas de pai conhecido, via de
regra o motivo é bastante lógico: esconder a maternidade, muitas vezes revelada
ao longo das gerações seguintes.
No caso da minha genealogia
matrilinear, consegui, contando comigo, retroceder a doze gerações.
Infelizmente não foi possível prosseguir além disto, que remonta
aproximadamente a década de 1670, por não existirem alguns registros
eclesiásticos da ilha do Faial, que integra o Arquipélago dos Açores, em
Portugal.
Desta pesquisa, contudo, há vários
destaques, como o retroceder na história familiar cerca de 350 anos até os dias
de hoje, além de saber que estas ancestrais fizeram parte das primeiras levas
da imigração açoriana para o Rio Grande do Sul, no século XVIII. Já em solo
gaúcho, a exemplo de outros ilhéus, estas mulheres percorreram e se
movimentaram por um vasto território, com a peculiaridade de que, como até os
dias atuais, perderam o sobrenome paterno.
Justamente por isto, ou seja, pelo não
conhecimento e esquecimento a que famílias pertenceram estas mulheres, julgo
ser de suma importância que se busque saber sobre estas linhas. Enquanto
levamos o sobrenome paterno às gerações seguintes, os apelidos maternos acabam
por cair no esquecimento, por onde se perde sem dúvida grande parte da história
familiar.
Assim que, como resgate histórico
genealógico, veiculo hoje a minha genealogia matrilinear:
1. MARIA LUÍS, nascida cerca
de 1670 na cidade da Horta, na ilha do Faial, Açores, e já falecida em
31/08/1705, quando seu marido casou-se em segundas núpcias. Maria viveu nos
arredores da igreja de N. Sra. da Conceição, na Horta, como constam nos
registros de casamento de seus filhos. Embora não tenha encontrado elementos
que confirmem a hipótese, é possível que seu viúvo tenha se casado com a
cunhada Catarina Luís. Se acertada esta hipótese, Maria seria a mesma nascida a
20/08/1673 na Horta, batizada na igreja de N. Sra. das Angústias, filha de Manuel Luís e Maria de
Azevedo. Maria Luís casou-se em meados de 1690, talvez na Horta (Conceição),
com ANTÔNIO DE GOUVEIA, ali nascido
cerca de 1660 e já falecido em 09/11/1718. Antônio casou-se a segunda vez, a
31/08/1705 na igreja de N. Sra. das Angústias, na Horta, com Catarina Luís, ali
nascida a 18/06/1679, filha de Manuel Luís e Maria de Azevedo. Maria e Antônio
foram pais, além de outros, de:
2. MARIA LUÍS, nascida cerca
de 1696 na cidade da Horta, na ilha do Faial e falecida a 08/12/1746 na
freguesia de Pedro Miguel, na mesma ilha, com cinquenta anos “pouco mais ou menos”, viúva, recebeu os
divinos sacramentos, tendo sido sepultada no adro da parte do norte da igreja
local e não fez testamento por ser pobre. Casou-se a 15/08/1710 na freguesia de
Pedro Miguel com ANTÔNIO ALVERNAS (ou
Alvernaz ou Albernaz/s), ali nascido cerca de 1692 e onde faleceu a 08/01/1742
com 50 anos mais ou menos, sem testamento por ser pobre, foi sepultado junto a
pia de água benta na igreja local. Antônio Alvernas foi casado em primeiras
núpcias com Helena Silveira, falecida por volta de 12/07/1710 em Pedro Miguel,
pois foi achada morta “no mar, onde avia
caído a uns coatro dias” (sic). Pela idade de Antônio, acredito tenha ele
casado em 1710 com Helena, cujo registro, porém, não foi encontrado a fim de
prosseguir em sua linha ascendente. Em Pedro Miguel houve outros dois Antônio
Alvernas[2],[3] com os quais não encontrei
o parentesco. Além disso, o sobrenome Alvernas e variantes é corrente na ilha
do Faial, de cuja família descendo por inúmeras vezes, sem, contudo, encontrar
a ligação entre os respectivos antepassados, pela falta de registros. Maria
Luís e Antônio Alvernas foram pais, afora outros, de:
3. INÊS FRANCISCA, nascida
16/02/1730 na freguesia de Pedro Miguel, onde foi batizada a 21 do mesmo mês,
tomando o nome da madrinha Ignes de Santo
Antônio. Inês emigrou para o Brasil na segunda metade da década de 1750, ao
que tudo indica desembarcando em Florianópolis/SC e depois migrada para Rio
Grande, no Rio Grande do Sul, onde faleceu prematuramente aos 15/10/1761, com
cerca de 30 anos, muito pobre. Não consegui descobrir ainda se Inês veio casada
dos Açores ou se casou no Rio Grande do Sul com MANUEL DUTRA DE MEDEIROS, nascido a 07/05/1725 na freguesia de
Cedros, na ilha do Faial, Açores, filho de João Pereira Machado e Maria Garcia
de Mendonça de Medeiros. Inês e Manuel tiveram a filha:
4. ANA INÊS FRANCISCA,
nascida a 28/10/1759 em Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil, depois migrada
para a região de Rio Pardo, onde a 07/05/1773 casou em primeiras núpcias com João Soares Coelho, batizado a
16/09/1753 em Viamão/RS, filho de José Coelho Machado (nascido na freguesia dos
Altares, na ilha Terceira, Açores) e de Ana Micaela (nascida na freguesia de
Rosais, ilha de São Jorge, Açores). Ana casou-se em segundas núpcias também em
Rio Pardo/RS a 07/07/1784 com GREGÓRIO
FRANCISCO DA SILVEIRA (no casamento consta como Gregório Leite Ferreira),
batizado em Rio Pardo a 17/05/1761, onde também faleceu a 07/01/1821, filho de
Manuel Francisco da Silveira ou Manuel da Silveira de Quadros (nascido na
freguesia da Urzelina, ilha de São Jorge, Açores) e Josefa Isabel ou Josefa
Francisca de São Francisco (nascida na freguesia de Pedro Miguel, ilha do
Faial). Gregório e Ana tiveram 11 filhos, dentre eles:
5. INÊS FRANCISCA DA SILVEIRA,
batizada a 12/08/1787 em Rio Pardo/RS e falecida a 16/07/1861 em Santa Maria/RS,
com 80 anos mais ou menos. Ignes
Francisca como consta da documentação estabeleceu-se com o marido e filhos
em Dilermando de Aguiar, hoje município, mas à época segundo distrito de Santa
Maria, onde teve terras na Porteirinha.
Casou-se a 07/11/1803 em Rio Pardo/RS com VICENTE
PERES DA SILVA, batizado a 26/05/1785 em Rio Pardo e falecido a 23/08/1847
em Santa Maria/RS, filho de João Peres da Silva (nascido em São José ou em
Florianópolis/SC) e de Rita Lopes de Carvalho ou Rita Maria de Jesus (nascida
em Rio Pardo em 1763). Foram encontrados 12 filhos de Vicente e Inês, dentre
eles:
6. EUGÊNIA FRANCISCA DA SILVEIRA,
batizada a 09/02/1806 em Rio Pardo/RS e falecida a 21/01/1885 em Santa
Maria/RS, onde se casou a 20/01/1836 com SALVADOR
DE SOUZA LEAL, batizado a 1º/11/1818 na Lapa, Paraná e falecido a
13/11/1911 em Dilermando de Aguiar/RS, filho de Luciano de Souza Leal e
Escolástica Maria de Oliveira. Salvador faleceu com 96 anos (sic), de morte natural,
branco, casado, capitão da Guarda Nacional e criador em Dilermando de Aguiar,
onde tinha terras na Porteirinha. Eugênia e Salvador tiveram ao menos seis
filhos, dentre eles:
7. BELARMINA FRANCISCA DA
SILVEIRA, nascida a 02/02/1845 em Santa Maria/RS, possivelmente em
Dilermando de Aguiar e falecida a 19/7/1930 no Capão da Chácara, em Dilermando,
aos 86 anos, de gripe. Casou-se a 19/02/1860 em Santa Maria/RS com PLÁCIDO MARTINS ALVES, ali batizado a
28/11/1834, com mês e meio e falecido a 16/3/1923 em Dilermando de Aguiar,
filho de Antônio Martins de Moraes e Maria Dias Cortes (citados neste blog em: http://pufal.blogspot.com.br/search/label/fam%C3%ADlia%20Moraes%2FMorais). Plácido foi juiz
de paz e criador em Dilermando de Aguiar, deixando 15 filhos, dentre eles:
João Laureano da Silva e Placidina Martins da Silveira |
8. PLACIDINA MARTINS DA SILVEIRA,
nascida a 10/10/1877 em Dilermando de Aguiar/RS e falecida a 28/7/1921 em São
Gabriel/RS. Casou-se a 05/07/1896 em Dilermando de Aguiar/RS com JOÃO LAUREANO DA SILVA, nascido a
10/05/1871 em Cacequi/RS e falecido a 23/3/1936 em Pau Fincado, São Gabriel/RS,
filho de João Lauriano da Silva e Francisca Alves de Oliveira (citados neste
blog em: http://pufal.blogspot.com.br/2014/03/familias-portuguesas-nas-missoes-os.html). João foi
fazendeiro, criador e teve 11 filhos com Placidina, dentre eles, a minha
bisavó:
9. CELINA LAUREANO DA SILVA,
nascida a 05/09/1898 em Dilermando de Aguiar/RS e falecida a 18/10/1984 em
Porto Alegre/RS. Casou-se a 04/09/1915 em São Gabriel/RS com seu primo terceiro
MÁRIO DA SILVA BRASIL, nascido a
02/3/1889 no Rincão dos Brasil, Boca do Monte, Santa Maria/RS e falecido a
02/11/1962 em Porto Alegre, filho de José da Silva Brasil e Maria José Alves de
Oliveira, tratados neste blog em inúmeras postagens. Mário foi engenheiro civil
e professor catedrático da atual Universidade Federal do Estado do Rio Grande
do Sul, deixando livros publicados, além de poesias que veiculo no blog com
frequência. Mário e Celina tiveram 7 filhos, dentre eles minha avó:
10. M. L. BRASIL, nascida em
Porto Alegre, onde casou com N. A. DE
LEÃO, com quem teve dois filhos, dentre eles:
11. D. B. DE LEÃO nascida em
Porto Alegre, onde casou com H. L. S. PUFAL,
com quem teve quatro filhos, dentre eles:
12. DIEGO DE LEÃO PUFAL.
***
FONTES DE PESQUISA:
- Arquivo da Cúria de Santa
Maria: livros de batismos, casamentos e óbitos de Santa Maria.
- Arquivo Histórico da Cúria
Metropolitana de Porto Alegre: livros de batismos e casamentos de Rio Pardo;
livros de batismos de Viamão.
- Arquivo pessoal de Diego
de Leão Pufal, Helder Oliveira e João Simões Lopes Filho.
- Centro de Conhecimento dos
Açores – disponível em http://www.culturacores.azores.gov.pt/default.aspx
- CITCEM – Centro de
Investigação Transdisciplinar. Cultura, espaço e memória. Grupo de história das
Populações. Disponível em http://www.ghp.ics.uminho.pt/software.html
- FERREIRA, Aurélio Buarque
de Holanda. Aurélio: o dicionário da
língua portuguesa. Coordenação de Marian Baird Ferreira, Margarida dos
Anjos. Curitiba: Positivo ed., 2008.
- JACCOTTET, Alda M. de
Moraes e MINETTI, Raquel Dominguez de. Diáspora Açoriana. Açorianos na Vila do Rio.
Grande de São Pedro antes da invasão espanhola. Edição das autoras, 2002.
- LDS (igreja mórmon):
livros de batismos da Lapa/PR e livros do registro civil de Dilermando de
Aguiar/RS.
[1]
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Aurélio:
o dicionário da língua portuguesa. Coordenação de Marian Baird Ferreira,
Margarida dos Anjos. Curitiba: Positivo ed., 2008, p. 331.
[2]
Antônio Alvernaz, nasceu em Pedro Miguel por volta de 1680, filho de Mateus
Alvernaz (n. 1658, Pedro Miguel) e Isabel Gonçalves, ali casados a 10/06/1679,
neto paterno de Antônio Alvernaz (n. cerca de 1625) e Maria da Terra. Este
mesmo casal Antônio Alvernaz e Maria da Terra foram pais ainda de Maria da
Terra, nascida em Pedro Miguel, onde casou a 17/10/1678 com Francisco de Faria
Sarmento, cujo neto, Manuel Nunes, foi padrinho de uma das filha de Antônio
Alvernaz e Maria Luís. Aquele Antônio Alvernaz também foi padrinho de batismo
de uma das filhas de Antônio Alvernaz e Maria Luís, surgindo a hipótese de que
Antônio Alvernaz (casado com Maria Luís) talvez fosse um terceiro filho ou neto
de Antônio Alvernaz e Maria da Terra.
[3]
O outro Antônio Alvernaz nasceu na freguesia da Ribeirinha, ilha do Faial e foi
casado com Maria Duarte, nascida em Pedro Miguel, casal que acreditava fosse o
mesmo Antônio Alvernaz e Maria Luís. Porém, embora não tenha encontrado o
registro de casamento deles também, abandonei a hipótese por duas razões: o
sobrenome de Maria Luís não variar nos registros de batismos e casamentos dos
filhos, no caso para Duarte, e os locais de referência de nascimento de cada
qual, enquanto o meu antepassado Antônio Alvernaz é dito nascido em Pedro
Miguel, o outro, na Ribeirinha, o mesmo se sucedendo com relação à Maria Luís,
nascida na cidade da Horta, e Maria Duarte, nascida em Pedro Miguel. O casal de
Antônio Alvernaz e Maria Luís teve ao menos 4 filhos emigrados para o Rio
Grande do Sul: José Albernaz/Alvernaz (nascido a 18/3/1735 em Pedro Miguel);
Raimundo Alvernaz (n. 1º/1/1738 em Pedro Miguel, casado em Triunfo e depois em
Viamão, no Rio Grande do Sul), Josefa Maria Albernaz, nascida a 9/4/1740 em
Pedro Miguel, casada com Antônio de Azevedo Saldanha, no Rio Grande do Sul) e
Domingos, nascido a 8/10/1744 em Pedro Miguel).