quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Poesias de Mário da Silva Brasil


Caridade



A noite era fria,
Lá fóra chovia
E o vento gemia
Em ancias de horror,
E quedo eu estava
Porque meditava
Porque contemplava
Da noite o negror.

Passado um momento
Rugia inda o vento
Com furia e no intento
De tudo arrazar;
Coriscos luziam,
Mil raios cahiam
E as nuvens corriam
Como ondas no mar.

Porem, de repente,
Rajada potente
Lançava, fremente,
Por terra e sem dó
Alguém, desgraçado,
Que o misero fado
Havia arrojado
No mundo tão só.

De garras tyrannas,
Crueis, deshumanas,
De furias insanas
O triste arranquei,
Fugindo aos castigos
Dos raios imigos,
E exposto aos perigos
Que muito affrontei,

Embora a temer
E exposto a soffrer.
Mas manda o dever
Aos pobres livrar
Dos males da vida
Cruel e renhida
Pra doce gurida
E amparo lhes dar.


Santa Maria, 11-12-1909.