terça-feira, 22 de julho de 2008

Poesias de Mário da Silva Brasil

Mais algumas poesias de Mário da Silva Brasil:


24 de Outubro


E nesta data que enlotou à historia
Que eu prestar venho um reverente culto
A um braço forte, portentoso vulto
Da nossa Patria verdadeira gloria!

Foram seus feitos colossal vitoria,
Que só não vê o pretencioso estulto
Que lhe dirige vergonhoso insulto,
Mas não lhe mancha a cultual memória.

Por isso venho derrramar meu pranto
Junto da campa deste heróe perfeito
Que a sua Patria idolatrava tanto.

E a sua memoria, enreverente preito,
Levantem todos do Rio-grande filhos
Um viva unisono ao imortal Castilhos.

Fonte: recorte de jornal
***

De Manhã


Quantos encantos, na manhã gentil
De primavera, nós gozamos, vendo
Os malmequeres que, em centenas mil,
Orlam os campos, um lençol tecendo!

Quanto é soberbo ver-se o céu de anil,
O sol doirado quando vem nascendo,
A passarada alacre, a flôr gracil
E as campinas de luz resplandecendo!

E quando é bello, quão sublime mesmo
Ver os prodigios que a natura opéra
Até nas cousas que ahi estão a esno!

E não me engano, pois perfeita é em tudo
A natureza que, na primavera,
Deixou-me sempre deslumbrado e mudo!

Santa Maria, 9-7-1908.
***

Segredo e Confissão


Serena e branda vóz me fala ao peito,
Seduzindo-me sempre, oh tentação,
Pra arrancar-me um segredo ao coração
Que a aclaral-o está quasi e satisfeito!

Revelal-o, porém .... Que extranho effeito
Traz-me em vista tão fácil confissão?!
Não fazel-a é peccado, e vejo então
Que a contar o segredo estou sujeito.

Vou dizel-o portanto. Mas, .... meu Deus,
Que embaraços são tantos estes meus,
E que medo tão grande me domina?!

Porem, negar não posso, oh meiga flôr,
Que minh’ alma por ti morre de amor,
Mas perdão, si pequei foi minha sina.

Santa Maria, 29-1-1909.
***


Perdão

A inspiradora luz desses teus olhos
Que minh’alma ferir veio, donzella,
Me fascina, me attrahe e me enfeitiça
Porque és tu dentre as bellas a mais bella!

Foi a mão divina Providencia
Que premiou-te com dote tão sublime,
E, impellido por ella, em doce instante,
Captivo logo de teus olhos vi-me.

Mas que cruel e triste desventura
Não terei neste mundo enganador,
Si no teu peito não houver abrigo
Para meu canto que te pede amor.

E agora peço, pois és tão bondosa,
Ao meu arrojo conceder perdão,
E si não queres teu amor render-me,
Acceita, ao menos, o meu coração!

Santa Maria, 25-5-1909.